1447 palavras
7 minutos
A proposta do meu padrasto

Julinha brinca com o fogo ao provocar o namorado da mãe, sem imaginar as consequências. Agora, encurralada, precisa decidir até onde está disposta a ir.

Capítulo 29#

No dia seguinte, acordei com um barulho de gente chegando. Espreguicei na cama, sentindo aquele torpor gostoso de manhã preguiçosa. Devia ser minha mãe voltando do show, pensei, e me aninhei na coberta para mais um cochilinho. Mas aí, veio a voz. Grave, chamando o nome dela lá da sala. Minha mente ainda estava meio grogue, mas o susto foi instantâneo.

Era o meu padrasto.

O sono sumiu na hora. Sentei na cama de supetão, o coração acelerando. Mariana, do meu lado, dormia feito uma pedra, nem se mexeu. Olhei para o relógio: oito da manhã. Um arrepio subiu pela minha espinha. Será que aconteceu alguma coisa com minha mãe? Ele tava ali pra me dar uma notícia ruim?

Meu corpo já tava agindo antes da minha cabeça processar. Levantei correndo, descalça, só de camisola, e fui direto pra sala. Quando cheguei, lá estava ele, andando de um lado pro outro, olhando pelos cantos, procurando alguma coisa. Ou alguém.

Minha mãe.

— Oi, tá procurando ela? — soltei, ainda meio ofegante.

Ele se virou pra mim, meio distraído, mas logo sorriu, aquele sorriso sem graça de quem foi pego no flagra.

— Sim. Fiquei de vir aqui hoje.

Franzi a testa.

— Ué, ela saiu ontem pra ver um show e depois ia pra casa da minha tia. Acho que ainda não voltou.

— É, eu tava com ela. Ela deve estar dormindo… — ele deu de ombros, sem pressa, como se aquilo não fosse nada demais. — Mas tudo bem, sou de casa.

Aquela frase ficou martelando na minha cabeça. “Eu tava com ela”. Ele disse isso de um jeito tão casual que, por um segundo, a imagem dos dois juntos me passou pela mente. Engoli seco, desviando o olhar.

— Então tá bom… — falei, tentando não demonstrar nada. — Pensei que tivesse acontecido alguma coisa.

Ele sorriu de novo, aquele sorriso fácil, mas que agora me parecia estranho. Um pouco tenso, talvez. Eu também me sentia tensa. Porque eu lembrava. Eu lembrava muito bem do que tinha feito com ele. E, pelo jeito, ele também.

— Vamos aproveitar que sua mãe não está aqui e vamos conversar?

Eita. Era agora. A hora de encarar as consequências do que eu fiz.

Respirei fundo. “Júlia, fica muda e deixa ele falar”, repeti pra mim mesma. Mas meu coração já martelava no peito, aquela ansiedade subindo devagar.

— Sim, pode ser — respondi, me sentando no sofá.

Ele ficou em pé na minha frente, as mãos nos bolsos, olhando pro chão por um instante, como se organizasse os pensamentos. Quando finalmente ergueu os olhos pra mim, seu rosto estava mais sério, mas sem aquela pose autoritária de antes. Era outra coisa.

— Então, Julinha… — começou, devagar, pesando cada palavra. — Você tá virando uma moça linda e desejável, e eu não sei se foi um acidente ou o que aconteceu… mas eu queria me desculpar por ter visto você sem querer.

Ah, pronto.

Eu tinha planejado ficar calada. Mas eu? Eu com minha língua maior que a boca? Não aguentei.

— Mas não foi sem querer, você ficou olhando de propósito.

Ele travou. Olhou pro lado, pensativo, e então soltou um suspiro.

— A gente sabe que foi. Você já é adulta, sabia exatamente o que estava fazendo… e ninguém precisa saber disso, não é?

Meu estômago revirou.

— Não mesmo. Mas… você falou com alguém?

— Não.

— Então por que minha mãe brigou comigo e, logo depois, veio com aquele papo de como eu me visto?

Ele respirou fundo e passou a mão na nuca.

— Vou ser muito honesto com você, Julinha… Eu vi que você tava me provocando e, sei lá, fui bancar seu pai. Comentei com a sua mãe. Ela ficou preocupada. E eu já tinha outras questões com ela… que não são da sua conta, aí brigamos.

Minha boca abriu antes que eu pudesse controlar.

— Meu Deus, você é burro! Não podia só olhar quieto?

Ele riu, sem humor.

— Eu sei.

Ficamos um instante em silêncio. Ele me olhava diferente agora, como se estivesse tentando me decifrar. Até que perguntou, direto, sem rodeios:

— Mas… por que você estava se exibindo daquele jeito pra mim? Você tem interesse em mim, menina?

A pergunta caiu como um choque. Um frio na barriga subiu tão rápido que minha espinha arrepiou.

Desviei o olhar, fingindo desinteresse, jogando o corpo no sofá, como se aquilo não tivesse me afetado.

— Não. Eu só… tava à vontade na minha casa.

Ele cruzou os braços, me observando.

— Eu te conheço há muito tempo. Você tava estranha no café da manhã, e depois eu subo e vejo aquilo. Não sei o que pensar.

Revirei os olhos, impaciente.

— Sério, vou falar de novo… Você não consegue ficar na sua mesmo, né?

Ele respirou fundo, como se quisesse evitar entrar num bate-boca.

— Tudo bem. Eu tô reatando com sua mãe. Você vai me ver mais por aqui. Se ela perguntar, diz que conversamos e está tudo certo, tudo bem?

Olhei pra ele de canto de olho.

— Tá bem, então.

Por mim, a conversa acabava ali. Mas ele não terminou.

— Eu só queria dizer uma coisa pra você antes… se você me permitir.

Levantei a sobrancelha, desconfiada.

— O quê?

Ele me encarou por um segundo a mais que o necessário, e então soltou:

— Você me deixou muito louco… Pena que você é minha afilhada.

O calor subiu pelo meu rosto na hora.

Eu deveria ter ficado ofendida. Eu sabia disso. Qualquer pessoa normal ficaria.

Mas eu não fiquei.

Pelo contrário.

Não consegui conter um sorrisinho e, antes que pudesse evitar, fiquei envergonhada. Aquele elogio bateu firme.

Ele tinha um jeito de galã, isso eu nunca neguei. Boa aparência, presença, aquele charme meio perigoso que fazia ele parecer sempre no controle da situação. Minha mãe sempre foi uma mulher bonita, mas esse cara podia ter mulheres melhores que ela se quisesse. Tanto que, quando ele apareceu, a gente achou que era um aproveitador de olho no dinheiro dela — mas minha mãe nem tem dinheiro.

Mordi o lábio, desviando o olhar, tentando disfarçar o sorriso.

— Se comporte, rapaz… — soltei, em um tom de brincadeira, mas por dentro, meu coração batia acelerado.

— Então, se quiser fazer de novo eu topo, mas ninguém pode saber. Isso poderia ser um egredo nosso?

Eita que ele foi direto, eu não sabia como processar aquilo, o namorado da minha mãe dando em cima de mim? Gente, eu devia ter ímã para homem, só pode. Eu não sabia o que responder e minha mente ficou como um quadro em branco e eu comecei a ficar nervosa. E quando a gente não pensa, fala qualquer coisa.

— O que exatamente você tá me propondo? — cruzei os braços, tentando manter a postura, mesmo sentindo o coração bater forte dentro do peito. — Você quer me comer?

Ele soltou um riso baixo, daquele tipo que não entrega muita coisa.

— Você é muito safado, isso sim.

— E você não é?

Senti um calor subir pelo rosto.

— Responde minha pergunta.

Ele respirou fundo, me olhando nos olhos, sem pressa.

— Se você quiser me dar…

— Claro que não, idiota! — minha resposta saiu rápida, quase automática, num tom indignado. — Você é velho!

Ele não pareceu ofendido. Pelo contrário, parecia até se divertir com aquilo.

— Mas você gosta de ser vista por mim, não gosta?

Eu travei completamente nessa hora, parecia que não tinha mais ar naquela sala. Minha mente deu um nó tão grande porque eu não sabia essas respostas! Eu só tinha feito o que fiz e pronto. Não tinha planejado antes, não tinha parado pra pensar depois. E agora ele me encurralava com perguntas que eu mesma não sabia responder.

Claro que eu tinha gostado.

Fiquei mega excitada com a ideia de ter sido vista, a sensação de saber que alguém me olhava daquele jeito, com desejo, me deixou doida naquele momento.

Mas daí a planejar pra fazer de novo?

São outros quinhentos.

Então, como eu não sabia o que responder, só fiquei quieta. Meu coração batia rápido, minha mente um caos, tentando encontrar alguma resposta que fizesse sentido.

Mas ele não esperou.

— Olha só — disse, com a voz baixa, quase casual — eu vou te mandar uma foto. Se você gostar…

Franzi a testa.

— Foto? Como assim?

Ele me olhou de canto, aquele sorriso de canto malandro.

— Nude.

O choque me travou por um segundo.

— O quê?!

— Sim.

Eu engoli seco.

Minha cabeça girava, e eu sabia que minha expressão me entregava. Eu devia dizer não na hora, dar um fim nisso ali mesmo.

Mas, em vez disso, o que saiu da minha boca foi:

— Tá… não sei… vou pensar…

E então, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, saí correndo da sala feito uma criança. Eu precisava sair dali. Aquilo tinha sido demais para a minha cabeça. Meu peito subia e descia rápido, o nervosismo me deixando elétrica, uma mistura de medo, adrenalina e outra coisa que eu não queria admitir.

Só sabia de uma coisa: era hora de acordar Mariana. Eu precisava de conselhos.

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