Julinha se frustra com o namorado que não quer compromisso, desabafa com a prima e planeja se desculpar para manter o rolê.
Capítulo 34
Passei o resto do dia meio puta com a minha mãe. Eu achava que ela não devia se meter nas minhas intimidades. Mas, pensando bem, forçar o moço a ir lá em casa podia ser uma coisa boa. Talvez se minha mãe conhecesse ele, gostasse dele, podia até deixar ele dormir no meu quarto comigo. Isso seria a melhor coisa do mundo.
Mas ao mesmo tempo, eu tinha medo. E se ele corresse? E se assustasse com a ideia de compromisso? Homem não gosta muito dessas coisas. Pode ser que ele queira só putaria mesmo e saia correndo ao primeiro sinal de namoro. Mas eu queria mais. Sei lá, namorar, poder andar de mão dada, ter alguém pra ir comigo nos lugares sem precisar esconder.
Ele era um cara legal. Mais velho que eu, tinha carro, trabalho, umas ideias de futuro. Não era vagabundo como a maioria dos moleques que eu conhecia. Minha mãe provavelmente ia gostar dele, se não visse ele chegando com o som do carro estourando a rua inteira.
Fiquei animada com a ideia. Peguei o telefone cheia de esperança e liguei pra ele.
— Ei, gatinho! Tudo bem?
— Oi! Tudo bem na aula? Não consegui atender antes, fiquei enrolado demais aqui. Desculpa.
Quando eu saí da aula, queria que ele fosse me buscar, mas ele não tinha atendido minhas ligações. Já tava meio irritada, mas resolvi puxar assunto de novo.
— Então… você tem como vir aqui em casa?
— Pode ser. Sua mãe vai sair hoje? — falou ele com a voz animada.
— Eu queria… mas não. Ela tá me enchendo o saco, querendo te conhecer…
Ouvi um silêncio mortal do outro lado da linha.
— Claro, a gente pode combinar. Pode ser semana que vem?
— Semana que vem? Se você não vier antes de sábado, ela não vai deixar eu ir pro motel com você.
— Entendi… é que eu tô meio ocupado no trabalho, sabe?
Eu não acreditei quando ouvi aquilo.
— E você não pode passar aqui pra falar com ela por dez minutinhos?
— Mas… ela quer conversar o quê, Julinha?
— Ela só quer olhar pra tua cara, saber quem você é.
— É que a gente se conhece há pouco tempo… isso vai virar compromisso…
— Compromisso? E a gente não tem compromisso? Tu me come e acha que eu sou o quê, cara?
Me indignei de verdade. Mas no fundo, eu sabia que se alguém ali tinha outras opções, era eu. Mesmo assim, a ideia de namorar, de ter alguém só meu, tinha me deixado vulnerável. E ouvir ele hesitar assim me deu um nó no peito.
— Tem amor, mas a gente está se conhecendo ainda…
Eu logo interrompi…
— Filho, você enfiou o pau dentro de mim, vive com a mão na minha buceta, quer conhecer mais o quê, caralho? Quer saber? Vai se foder! Quando você virar homem, me liga.
E desliguei na cara dele. Na hora me arrependi, claro. Fui infantil, deixei o sangue subir pra cabeça. Não deu nem um minuto e o telefone começou a tocar, vibrando sem parar na minha mão. Mas eu não podia atender. Já tinha decidido levar a birra até o final.
— Caralho, fiz merda de novo! — gritei no quarto, sentindo os olhos queimarem. — Eu só faço merda, puta que pariu!
Me joguei na cama, desolada, só rezando pra minha mãe não ter ouvido meu grito e resolver voltar pra me perturbar com esse assunto de novo. Eu precisava pensar, e se tinha alguém que podia me ajudar, era minha prima Mariana. Catei o telefone e liguei pra ela, contei o que tinha acontecido e ela disse que ia dormir aqui em casa hoje.
O resto do dia se arrastou. Tentei estudar, mas a cabeça não funcionava. Até do plugue que eu tinha ganhado eu já tinha esquecido. Só conseguia pensar no que eu tinha falado, no telefone que não parava de vibrar com as ligações dele e na merda que eu tinha feito.
Quando a Mariana finalmente entrou no quarto, já era noite. Ela trancou a porta atrás de si com aquele ar de urgência de sempre, jogou a mochila no canto e parou na minha frente, me olhando como quem analisa um gato morto.
— E aí? Tudo bem? — perguntou, se sentando do meu lado na cama e me dando um beijo rápido na boca. Aquilo tava virando hábito.
— É o que eu te falei… minha mãe quer que ele venha aqui, e o desgraçado correu. E se ele não vier, eu não vou poder ir pro motel com ele. E eu queria muito ir.
— Espera aí, Julinha… você tá chateada porque ele não quer assumir namoro ou porque não vai poder dar mais pra ele?
— Os dois, idiota.
Falei mais áspera do que devia, e ela chegou a se assustar, recuando um pouco.
— Cacete, sua ignorante! Fala direito.
— Desculpa… tô nervosa! O que eu vou fazer?
Ela ficou em silêncio por uns segundos, olhando pro canto do quarto, como se tivesse tendo um insight. Depois voltou o olhar pra mim com aquele sorriso malicioso que eu já conhecia bem.
— Cara, eu tenho uma ideia. Mas você vai ter que pedir desculpa pra ele.
— Desculpa? Tá maluca, Mariana? Eu tô muito puta com ele, isso sim!
Mariana se sentou de frente pra mim, segurando meu braço como se quisesse me obrigar a calar a boca.
— Escuta. Cala a boca e escuta. — ela disse, com aquele tom sério que só ela conseguia fazer soar engraçado. — Liga pra ele e fala que sua mãe não vai estar aqui amanhã, e que você quer que ele venha pra você se desculpar.
— Prima, ele vai ficar muito puto comigo…
— Que fique! Pensa comigo: se ele não vier, significa que o rolê de vocês dois praticamente acabou. Se ele vier e resolver terminar contigo, vai dar na mesma. Então vale a pena arriscar, não vale?
Eu parei pra pensar. Era meio lógico. Ele podia ficar puto, mas pelo menos eu ia ver o boy de novo, sentir aquele cheiro dele, aquele toque que me deixava mole.
— É… você tem razão. Ele vai ficar puto, mas pelo menos eu vou poder ver ele, né.
— Sim! E outra, ele não vai querer deixar de te comer, né?
Eu dei uma risada, sem graça. O medo da rejeição ainda tava lá, mas a vontade de resolver aquilo era maior.
— É que eu acho que tô apaixonadinha por ele, sabe?
Ela levantou a sobrancelha, rindo de lado.
— E o Pedro?
— Que mané Pedro, Mariana. Ele tá um saco, não pode me ver que já quer me levar pra um canto.
— E tu gosta, né, piranha!
— Claro! — respondi rindo, empurrando ela pra cama e pulando em cima.