Capítulo 35#

Com a Mariana, as coisas eram muito mais fáceis. A gente não tinha joguinhos. Eu queria, ela queria, e ponto. Era só os olhares se cruzarem, o lugar estar livre, e a coisa já pegava fogo. Até cinco minutos atrás eu tava querendo chorar, e agora tava ali, em cima dela, me aninhando entre suas pernas, sentindo o calor do corpo dela por baixo do meu.

— Tu trancou a porta? — perguntei, mordendo o ombro dela de leve.

— Tranquei. Mas não se anima, não!

— Por quê?

— Esqueceu, tapada? Desce hoje…

— Caralho, Mariana, coloca uma rolha nessa buceta, caceta!

— Se fosse fácil assim, né?

Eu ri e me joguei de lado, saindo de cima dela.

— E como puta faz quando tá menstruada? Não trabalha? — perguntei curiosa com a nova ideia.

— Sei lá. Já ouvi dizer que colocam um algodão lá dentro.

— Mas isso é saudável?

Torcemos as caras juntas pensando sobre isso e como poderia funcionar.

— Não deve ser, né?

— Logo hoje que eu queria testar uma coisa com você…

Ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas, curiosa.

— Que coisa?

Eu ri nervosa, sem saber se devia mostrar. Fiquei com medo dela surtar, ficar com ciúmes, perguntar como eu consegui aquilo. Me levantei devagar, fui até a mochila, peguei o trambolho de metal e, antes de voltar, conferi se a porta tava mesmo trancada.

— Pensa rápido! — falei, tacando o troço na direção dela.

Ela pegou no ar, os olhos arregalando na hora.

— Um plugue? Onde você conseguiu isso, maluca?

Eu não consegui segurar a risada. Era difícil explicar aquilo sem todo o contexto.

— Ih… longa história. Foi minha professora de biologia.

Ela ficou me olhando, o plugue brilhando na mão dela, sem acreditar.

— Como assim? O que essa mulher tá te ensinando?

E eu contei tudo. Tudo mesmo. Com detalhe, entonação, emoção. Era pra eu ter mentido, inventado uma desculpa besta, fingido que a cera tava ali à toa. Mas sei lá, me deu um surto de sinceridade e resolvi abrir o jogo antes que eu me enrolasse nas mentiras e ela sacasse. Só omiti uma parte: que meu plano desde o começo era dar pra ela no meio da história da depilação. Isso eu guardei.

Ela ficou olhando pra coisa com a sobrancelha meio arqueada, depois virou os olhos pra mim com aquela calma que dá medo.

— Tu quer que eu enfie essa coisa no teu cu? Mas o pepino não entrou e tu acha que isso vai entrar?

— Essa coisa foi feita pra isso, né?

— Mas prima… desculpa, meu peito tá doendo demais, eu tou com cólica, minha buceta parece que tá de castigo.

— Ah não, Mariana! Tu vai me jogar o “tô de xico” justo hoje?

Ela ignorou meu chilique e ficou olhando pras mãos, tipo contando nos dedos. Depois levantou o olho e lançou:

— Julinha… vê no teu app aí, cê não vai ficar menstruada no fim de semana também?

A verdade? A gente meio que sabia o ciclo uma da outra. Não era combinado, mas nossas menstruações viviam se encontrando no calendário. E pior: ela tava certa. A conta batia. Eu tinha coisa marcada sábado e aquela porra podia descer justo no meio da programação. Peguei o celular e só consegui xingar.

— Puta merda, desce domingo.

— Tu é impressionante. Como assim não sente que vai menstruar? Teu peito não dói? TPM não dá nem um oi?

— Nada! Nunca senti porra nenhuma. Graças a Deus… Mas agora fudeu. Se descer sábado, acabou com meus planos.

— Depilar a Larissinha e enfiar um absorvente por cima é sofrimento à toa, prima. E se ele não gostar de galinha ao molho pardo? — ela falou e caiu na gargalhada, me zoando descaradamente.

Fiquei ali, parada, sem saber o que fazer. Era foda. Tinha dia que eu odiava ser mulher. Que ódio! Ter buceta é gostoso? Claro que é. Mas cuidar dela é um inferno às vezes. Tudo complicado, tudo sensível, tudo sangra, tudo dói. Um cu que sangra todo mês e a gente tem que fingir que tá tudo bem. Dá vontade de devolver e trocar por um pau, homem nem lava aquela porra direito e o troço não cai. Sentei na cama igual uma alma penada, encarando o vazio com cara de enterro.

Mariana se jogou de lado na cama, me olhando com pena e preguiça.

— Prima… não é o fim do mundo. Tu pode remarcar com a professora. E com ele também. Outro final de semana. Tu não vai morrer por causa disso.

— Pois é… — falei meio sem força — e eu nem sei se ele vai querer mais, né? Esqueceu o barraco?

— Tem isso também — ela deu de ombros, mastigando as palavras com aquela calma debochada. — Mas por que tu não liga logo pra ele? Resolve isso.

Fiquei uns segundos quieta, olhando pro celular como se ele fosse me dar a resposta sozinho. A Mariana nem respirava do meu lado. Aí, do nada, como se fosse agora ou nunca, disquei. Ele atendeu na hora.

— Oi.

Uma pausa foi ouvida do outro lado da linha e então ele respondu finalmente.

— Oi… eu tou te ligando desde cedo e tu nada, né?

— Pois é, eu fiquei chateada com o que você disse… você pode vir aqui pra gente conversar?

— Claro que sim, amor. Onde você quer?

“Amor”, ele disse. Filho da puta.

Respirei fundo. A armadilha precisava ser montada com jeitinho, né? Pra ele cair feito um idiota e ainda agradecer. Falei com a voz mais doce e falsa que consegui:

— Então… amanhã. Minha mãe vai num bingo com a minha tia, e eu vou ficar sozinha com a Mariana.

Mariana começou a tremer do meu lado, rindo igual uma condenada, com a mão enfiada na boca tentando segurar o escândalo. A atuação tava digna de novela da Globo.

— Tá combinado, então. Amanhã às oito eu passo aí.

— Fechado. Beijo. Eu te espero.

Desliguei e fiquei ali parada, soltando o ar como se tivesse acabado de correr uma maratona. Olhei pra Mariana e caímos na gargalhada juntas. Era isso. Se ele não queria resolver por bem, a gente resolvia por mal — com roteiro, trilha sonora e Mariana de cúmplice.

— Tu é MALUCA, Julinha! Agora vai ter que avisar a tua mãe, né?

— Sim…

Respirei fundo, ajeitei o top como se isso fosse me dar coragem e saí correndo até a porta do quintal gritando:

— MÃEEEEEEE!

— QUÊÊÊÊ? — ela berrou lá dos fundos da casa, com voz de quem já tava de saco cheio.

— ELE VEM AMANHÃ DE NOITEEEE!

— TÁÁÁ! ACHO BOM QUE VENHA MESMO! — ela gritou de volta, numa mistura de ameaça e bênção.

Voltei pro quarto rindo. A Mariana já tava jogada na cama, batendo a mão no colchão de tanto rir.

Agora era só esperar.

— Esperar é o caralho, tu vai me chupar filha da puta. — ameacei ela.

— Porra Julinha, eu tou com cólicas.

— Que de dane.

Eu estava daquele jeito, o dia tinha sido nervoso e eu precisava de um alívio decente e Mariana ia me dar aquilo nem que fosse à força!