Capítulo 44
Aquilo tinha me deixado preocupada. Eu mesma tava colocando lenha numa fogueira que já tava saindo do controle. Mas, na minha cabecinha de vento, eu acreditava que podia resolver depois. Na minha lógica torta, bastava eu lembrar a minha mãe daquela história dele ficar me olhando estranho, e pronto: ela mesma ia tomar as rédeas, garantir que ele não pisasse em casa na hora que eu fosse fazer a faxina. Simples. Eu ficava com o dinheiro, ele ficava com a faxina, e eu não corria o risco de ser arregaçada inteira com aquele pau gigante dele.
Depois do almoço, Mariana teve que ir embora. Logo em seguida, meu irmão mais velho passou em casa rapidinho, trocou duas palavras e foi embora também. Desde que saiu de casa, ele quase nunca aparecia. E como a gente nunca se deu muito bem, nem liguei.
Mais tarde, liguei pro moço do ônibus pra saber dele. O nojento não atendeu. Eu fiquei com aquilo engasgado. Vou te dizer, tem umas duas histórias dele que não descem pela minha garganta. Primeiro, esse negócio dele não querer passar na rua da Diana… estranho pra caralho. E segundo: trabalhar tanto assim e, mesmo assim, viver sem dinheiro? Como é que pode?
Fui pra rua, caminhei até o ponto de ônibus, eu toda bonitinha e cheirosa… pra pegar ônibus. Um horror. A casa da Diana não era longe, era num bairro vizinho, só alguns pontos e chegava. Se eu tivesse disposição até dava pra ir andando, mas aí eu ia chegar toda suada. E só de pensar nisso já me deu uma agonia…
E se, na hora dela me depilar, eu ficasse molhada? Porque, assim, não é brincadeira: eu abro uma cachoeira, e não é pouca água não. A coisa literalmente escorre pelas minhas pernas. Aquilo me deixou aflita.
Mas aí minha mente foi mais longe: “vai que ela vê… e resolve secar?”
Eu comecei a rir sozinha dentro do ônibus, feito uma doida, abraçando a mochila no colo pra disfarçar.
Terminada a viagem, desci do ônibus e entrei no prédio. O porteiro parecia acostumado com aquele fluxo de jovens de mochila nas costas, porque quando me viu só mandou eu entrar e já pegou o interfone pra me anunciar.
Subi no elevador tensa. A garota… bem, “garota” não, porque ela era mulher de verdade. Mulherão. Loira de revista, tipo modelo: magra, alta, aquela presença que faz a gente se sentir pequena. Eu tinha dado mole demais da última vez, que terminou comigo me acabando em siririca no banheiro dela. Mas também… ela provocou, né? Tomou banho pelada na minha frente, não sou de ferro.
Eu tava querendo. Mas eu sabia que ela também queria. Só que, pra ela, devia ser bem mais complicado… afinal, eu era aluna dela.
E aí, no meio desse caminho até a porta dela, me veio o pensamento torto: será que eu não tava caindo nesse delírio de adolescente de se apaixonar pela professora? Será que eu não tava levando a coisa pra um lado que não tinha nada a ver? E por que caralho eu fui deixar pra ter essas dúvidas justo aqui, na porta da casa dela?
Mas aí a lembrança bateu: ela disse que ia depilar minha xereca.
Eu ri sozinha. Que coisa estranha… bem, no pior dos casos, eu ia sair de lá lisa.
Parei na porta do pequeno apartamento dela. Eu adorava aquele lugar, tinha cara de começo de vida, pouca coisa, mas tudo com um toque que deixava bonito. O quarto então… sempre me chamava atenção, todo escurinho, com luzinhas penduradas pelos cantos. Dava uma sensação boa de ninho.
Respirei fundo, ajeitei a roupa e toquei a campainha.
— Entra, Julinha! — a voz dela veio lá de dentro, alta, preguiçosa. — Tá aberta a porta!
Minha mão girou a maçaneta. O ambiente tava em meia-luz, cortinas fechadas, umas garrafas de bebida e copos largados na mesa de centro, junto de um cinzeiro transbordando. O ar tava pesado de incenso.
“A professora curte um boldinho…” pensei, tentando segurar a risada.
— Oi, tô aqui no quarto, vem cá! — a voz dela veio lá de dentro.
Segui o corredor pequeno e logo vi a porta semiaberta.
— Oi… dá licença… — falei, entrando com cuidado.
— Oi, linda, tudo bem? Senta aí.
Ela tava debaixo das cobertas, com um prato vazio do lado, assistindo televisão. Roupa de ficar em casa, cabelo meio bagunçado, precisando ver um pente — por mais liso que fosse, dava pra notar o descuido.
Me sentei e fiquei olhando em volta, tentando achar alguma novidade no ambiente. Até bati o olho na TV pra ver se o que ela assistia era relevante, mas não parecia nada demais.
— Vai querer fazer o negócio mesmo? — ela perguntou, de repente com uma cara preocupada, como se tivesse lembrado de algo. — Meu Deus, eu acho que posso estar sem cera.
— Diana, tu não me fala um troço desse! Amanhã eu vou pro cinco letras e preciso estar perfeita…
— Ahhh é!? Tá assim já, garota? — disse, rindo com descrença.
Eu ri junto. Ela não fazia ideia de quem eu era de verdade.
— Vê aí, Diana… se não tiver, pede na farmácia que eu pago aqui. Sacanagem, tu já vai fazer pra mim e ainda gastar teu material…
Na hora que falei isso, me bateu a merda do pensamento: porra, se tu quer ficar com alguém, não fala de namorado, né? Ela já sabia, eu tinha contado que pegava homem e mulher e que tava saindo com um cara. Mas enfatizar isso bem agora? Burrice.
— Relaxa, isso é o de menos. Mas me conta… é aquele mesmo da última vez que tu me falou? — ela perguntou.
— Sim, é sim.
— E vai querer fazer algo especial pra ele?
— Eu nem pensei nisso. Geralmente eu tiro tudo na gilete, fica meio empolado às vezes… eu queria ver como ficava na cera.
Ela me olhou rindo, aquele riso que desmonta qualquer defensiva.
— Tu é muito safadinha, garota… — se levantou e foi até o armário, revirando potes, cremes, perfumes, maquiagem, um monte de coisa. Pegou um potinho pequeno e se virou pra mim mostrando. — Com essa tabaquinha tua aqui, isso deve dar!
Eu ri alto.
— E o que eu tenho que fazer?
— Amor, nada. Só deita e eu faço tudo, rapidinho. Eu tenho que esquentar a cera… vamos na cozinha esquentar esse troço. E larga essa mochila aí.
Ela se levantou, e eu tive um deslumbre delicioso. Passou por mim e o cheiro dela ficou no ar, me invadindo. Sei que é coisa de homem, mas não consegui tirar o olho da bunda dela quando passou. Um shortinho de pijama, de seda talvez, justo demais. E pelo visto, sem nada por baixo.
Comecei a seguir atrás dela até a cozinha.
— É que eu trouxe meus livros porque minha mãe ia fazer um monte de perguntas. Se ela perguntar, tu tá me dando aula.
Ela riu do meu plano.
— Só não faz igual ao outro, que pegava o dinheiro e nem aparecia aqui. Isso é problema pra mim, tá?
— Pode deixar.
Ela encheu uma frigideira com água, colocou o potinho em banho-maria e já separou um pano do lado.
— Cara, tá me dando vergonha.
— Vergonha de quê?
— Eu tenho que ficar toda aberta, né? — a vergonha era real. Uma coisa era ficar assim com Mariana ou com o moço… mas com ela…
— Fala sério, garota. Me poupa disso.
Só que a ideia já tava me atiçando. E quando eu fico assim, eu ligo o modo capeta. Então resolvi dar um mole, ver no que dava.
— Diana… eu tenho uma dúvida, mas eu tô com vergonha de perguntar. — tava nada!
Ela parou de arrumar as coisas na pia. Secou as mãos devagar e me olhou fundo, me examinando.
— Que dúvida? Pode falar, amor.
Eu respirei fundo, preparei e larguei a bomba:
— E se eu ficar excitada?
Na hora o ar ficou pesado, dava pra tocar ele. Eu até parei de respirar, com medo de passar vexame. Ia ser o maior fora da minha vida se ela me cortasse ali.
Ela me olhou… mordeu a boca… e parecia pensar muito na resposta.
Continua…