Capítulo 47
A gente se ajeitou na cama e ficou olhando pro teto. Acho que pela primeira vez na minha vida eu tinha transado com alguém sem sentir aquele medo de alguém batendo na porta, de alguém entrar de repente. Era estranho… depois do sexo minha cabeça sempre virava um turbilhão, cheia de pensamentos sobre o que eu tava vivendo, como se fosse um capítulo importante da minha vida. Claro que no fundo era culpa — eu tinha culpa de tudo estar acontecendo tão rápido. Uma parte de mim se sentia mal, mas a outra adorava. E esse pensamento, quando vinha, também ia embora rápido.
— Diana, tu é muito escandalosa. — falei rindo, quebrando o silêncio.
Ela virou de lado pra me encarar, com o sorriso mais bonito do mundo. E ela era linda de um jeito que dava raiva.
— Cala a boca, garota. Eu nem podia imaginar que tu era assim, sabia? Ainda tô incrédula.
— Ué, se tu quiser eu provo de novo. — retruquei, me fazendo de atrevida.
— Que fogo é esse, menina! — ela disse, balançando a cabeça, rindo. — Nossa… acho que ninguém nunca me pegou assim, nem me fez gozar tão rápido.
Ouvir aquilo me fez inflar eu nem um baiacú atiçado. Fiquei orgulhosa, poderosa. Nunca tinha imaginado que eu podia ter esse efeito em alguém. Na minha cabeça eu só agia pelo puro tesão, sem pensar muito. Mas ali… parecia que eu tinha descoberto uma força nova dentro de mim.
— Sério mesmo, Diana? Mas eu não fiz nada demais… fiz o que eu sempre faço. — falei pensativa, meio incrédula ainda.
Ela se sentou na cama, abraçando os joelhos e se cobrindo com o lençol. Tinha um jeito curioso, os olhos brilhando.
— Me conta uma coisa, que eu tô curiosa… com quantas meninas você já saiu?
Puta merda. Eu pensei rápido. Não podia soltar a verdade de jeito nenhum. Imagina eu dizer que pegava minhas primas? Eu ia me foder bonito.
— Bem… teve uma menina que eu beijei… e… — fiz um gesto com a língua, lambendo o ar, pra deixar claro que tinha chupado ela.
Ela se escangalhou de rir.
Não falei nada, claro, sobre o namorado dela, a Carla, ter participado também.
— E tem uma ficante aí… — completei rápido. Na hora, dentro da minha cabeça, pedi desculpa pra Mariana. “Desculpa, prima… mas eu não posso falar a verdade agora.” pensei.
Ela ficou me olhando, parecia pensar se a coisa fazia sentido, sabe quando uma pessoa quer fazer um monte de perguntas mas não tem coragem? Então essa era a cara que ela fazia no momento! Eu não sei se eu devia perguntar sobre ela, eu não tenho em nunca tive curiosidade de saber do passado dos outros, então fiquei quieta.
O silêncio voltou ao quarto.
— Ei, vamos lá fazer o negócio? — falei para quebrar o gelo.
Ela deu um pulo da cama, jogou o lençol pro lado e foi direto pro banheiro tomar banho. Dessa vez não me chamou, e o som seco do trinco por dentro deixou claro: era pra eu ficar de fora.
“Será que ela vai tocar uma? Eu bem que tocaria umazinh agora…” pensei, rindo sozinha.
Mas o quarto dela me chamava. Tinha um negócio ali, um convite silencioso. Levantei sem roupa mesmo e comecei a fuçar. Primeiro, o criado-mudo do meu lado. As pessoas sempre guardam as coisas mais legais ali.
Abri a primeira gaveta: dois vibradores. — “Essa é danada mesmo, porra! E por que caralho não usou isso comigo? Sempre quis experimentar…”
Mais pra dentro, camisinhas, uns remédios e um anticoncepcional. Coisa básica.
Abri a debaixo: livros, papéis… e um porta-retratos virado pra baixo.
— Será que é ela com a namorada? Quero ver quem é…
Peguei e virei.
Na hora, foi como levar uma rasteira invisível. O mundo girou mais rápido do que eu podia acompanhar, um enjoo estranho subindo na boca do estômago. Uma vertigem me tomou inteira, como se o chão tivesse sumido sob meus pés.
— Puta que pariu… — foi a única coisa que consegui sussurrar.
Um barulho de trinco no banheiro me gelou por dentro. Perigo. Eu não podia ser pega fuçando ali. Respirei fundo, botei a máscara da falsiane e saí sorrindo, bem sonsa, quando ela apareceu na porta.
— Vou lá aquecer a cera, não demora, tá? — ela disse.
— Tá bem. — respondi, forçando um riso falso que quase doeu no rosto.
Assim que entrei no banheiro, minhas mãos tremiam. Levantei a tampa do vaso, sentei e fiquei olhando pro nada. Meus olhos começaram a marejar sem eu conseguir controlar. Era só aquele choro preso, grosso, que vinha do nada. Mas eu não podia chorar. Não podia ficar de olho inchado. Se ela visse, ia perguntar.
— Como eu posso ser tão estúpida? — sussurrei, mordendo a boca. — Caralho, eu sou burra demais!
A imagem não saía da minha cabeça. A foto na gaveta dela… era do meu namorado com ela. E como se não bastasse, a porra do carro dele aparecia junto na foto. Aquele carro que eu sempre odiei! Que inferno.
— Essa puta tá pegando o meu namorado… — falei sozinha, o coração batendo na boca. — E ela provavelmente sabe, claro que sabe! Por que mais iria esconder o porta-retrato virado dentro da gaveta?
Me curvei pra frente, segurando o rosto entre as mãos. O mundo parecia pequeno demais. Tudo ali, no mesmo bairro, como se a vida tivesse feito de propósito pra me foder.
— Não faz sentido… é coincidência demais, não pode ser real… — eu repetia, tentando achar um furo nessa desgraça.
Peguei o telefone com a mão suada. Pensei em ligar pra Mariana. Ela ia saber o que fazer, com certeza muito melhor do que eu. Mas se eu ligasse, teria que explicar tudo. E eu não tava pronta pra botar isso na boca dela.
Eu precisava de um plano. Urgente.
— Pensa, pensa, pensa sua burra… — eu batia aos murros na minha cabeça na melhor pose estilo Rodin.
Bem, primeiro: eu não podia, e nem tinha direito de reclamar que ele tava pegando outra. Desde que comecei a sair com ele, eu já tinha dado pra metade da minha família e, pra piorar, eu acabava de comer a namorada dele.
— Caralho, por que eu fui ser logo uma porra de uma puta? Eu não posso nem reclamar de nada! Que caralho… — falei alto demais, quase engasgada de raiva.
Ok, se eu não podia reclamar, pelo menos eu podia saber onde tava pisando. Se ela fazia ideia das safadezas dele, melhor ainda. Só que… como é que eu ia dizer que eu pegava o cara? Como ela ia acreditar nessa coincidência? Ela poderia achar facilmente que eu era uma histérica ciumenta que resolveu tomar aulas com ela para saber do namorado.
Foi aí que a ideia veio. Maluca, mas veio.
Me ajeitei no vaso, arreganhei as pernas com ódio, querendo que ele visse meu útero inteiro. Nem liguei de estar peluda que nem um guaxinim — na real, isso até ia me ajudar no plano. Peguei o celular, mirei e clique. Foto tirada.
Escrevi rápido, sem pensar duas vezes:
“Moço, sei que você tá ocupado, mas pode por favor me ajudar com uma questão feminina? Olha a foto e me diz como você acha que eu devo me depilar?”
Apertei enviar. A armadilha tava armada.
Terminei o que tinha pra fazer no banheiro, puxei a calcinha e voltei pro quarto. Ajeitei o rosto, fingi calma. Depois fui até a cozinha, onde Diana mexia na cera que insistia em não amolecer.
— Diana… e seu namorado? Você nunca falou dele…
Ela levantou os olhos pra mim e o ar ficou pesado. Não era só uma resposta jogada, era como se a lembrança tivesse peso de verdade. A expressão dela mudou, os ombros relaxaram meio caídos, e parecia que pensar nele era quase um incômodo físico. Eu, claro, fiquei ali observando cada detalhe, olhos de lince, o detector de mentiras apitando dentro da minha cabeça.
O barulho do banho-maria estalando na panela ao fundo era o único som na cozinha, misturado ao cheiro doce e enjoativo da cera derretendo. A luz branca da lâmpada deixava o rosto dela ainda mais pálido naquela hora.
— Ahn, garota… nem quero falar. Esse aí não vale nada. — ela suspirou fundo, olhando de canto pra cera, como se fugisse do assunto. — Acho que a gente nem tá namorando mais, se quer saber…
“Hummm… interessante. Será que ele tá terminando com ela pra ficar comigo?” pensei, mordendo por dentro da boca pra não soltar um sorriso.
— Como assim, ele desapareceu? — perguntei, tentando soar inocente, mas cutucando.
— De uns tempos pra cá sim. Hoje, por exemplo… disse que vinha aqui, mas não deu as caras. Mandou mensagem dizendo que mais tarde aparece. — ela deu de ombros, mas a mágoa escorria na voz. — E quando vem… se eu não tô a fim de transar, arruma uma desculpa qualquer e vai embora.
Eu arregalei os olhos, não porque era surpresa, mas porque queria ver até onde ela se entregava.
— Homem é tudo filho da puta, né? Respeitam mais os amigos que a gente… — soltei, no automático, mas também cutucando pra ver se ela morde a isca e solta mais.
Diana riu sem humor, aquele risinho curto que não combina com os olhos. Voltou a mexer a cera, que agora estava derretida, brilhando grossa dentro do potinho. Ela testou a textura com a espátula e fez uma cara satisfeita.
— Vamos lá? — disse, limpando as mãos no pano e me encarando com aquele meio sorriso que misturava convite e desafio.
Meu coração bateu mais forte. Não era só depilação. Eu quem iria para a tortura, mas quem ia cantar tudinho era ela.
E nós duas fomos pro quarto.
