Capítulo 53

Não tinha como esconder nada da Mariana, ela era esperta demais. Pra piorar, a loira da Diana tava com a cara toda vermelha e minha boca ainda borrada do batom caro dela, que mancha feito um cacete.

— Cala a boca, eu tenho que te contar uma coisa. Senta aí…

Mariana entrou, cumprimentou Diana com aquele jeitinho falso e se jogou no quarto com a gente.

— Diana, tu tá suando… — soltou, venenosa.

Diana ria, sem graça, e quanto mais a Mariana implicava, mais vermelha ela ficava.

— Deixa a garota, para de ser chata. Vem cá, deixa eu te contar logo.

Mas na minha cabeça já batia: Mariana tava com ciúmes. Um namorado meu ela nunca ligou, porque homem não competia com ela. Mas outra mulher? Isso sim parecia incomodar. E dava pra sentir: qualquer coisinha era motivo pra cutucar a Diana, uma alfinetada atrás da outra.

Respirei fundo e soltei tudo. Contei a história do começo ao fim. E Mariana… ouviu em silêncio completo, sem interromper uma vez sequer; coisa rara.

Quando eu terminei foi Diana que falou primeiro, ela tinha ouvido eu falar com o moço do onibus sobre chamar a minha prima pro motel mas depois a gente esqueceu de voltar no assunto…

— Ahn, pera aí… então você, Mariana, é a prima que ele queria levar pro motel? — Diana arregalou os olhos. — Mas de onde saiu essa ideia?

A loira era lerda, nem pra pensar um segundo antes de perguntar. Eu olhei pra Mariana, matutando como ia explicar aquilo sem parecer uma completa puta. Mas Mariana, como sempre, foi prática e jogou logo na lata:

— A Julinha tava fazendo um babão pra ele aqui no quarto, comigo do lado.

De tudo o que ela falou, Diana só pescou uma palavra.

— Babão?

— Boquete, Diana… — respondi, sem saber onde enfiar minha cara.

— Pera aí, você tava chupando ele na frente da sua prima?! — Diana arregalava os olhos, genuinamente assustada, parecia até que tinha visto um fantasma.

— É… tava… rolou… sei lá! Vai me recriminar? — falei de peito estufado, mas por dentro ardendo de vergonha.

— Não… só tô passada! — ela riu nervosa, sem saber se ria ou fugia.

Mariana, claro, não perdeu a chance. Botou a língua pra fora e começou a chupar uma rola imaginária, imitando minha performance, fazendo todo mundo cair na gargalhada.

— Ela chupa bem pra caramba, Diana!

— É, eu sei! — respondeu Diana, honesta demais pro próprio bem.

A resposta dela fez Mariana soltar um grito histérico:

— Suas piranhas! Vocês tão se comendo e você, Julinha, não falou nada comigo?!

— Cala a boca, Mariana! Aconteceu hoje, nada a ver… foi só uma vez.

— É, né? Porque a segunda eu interrompi, pelo visto!

O papo deu uma guinada de repente quando a Mariana pegou o celular e começou a falar de curso, documento, sei lá o quê. Diana ficou quieta, só ouvindo nossa conversa, mas eu de rabo de olho percebia: ela tava com alguma coisa entalada.

— Diana, eu tô te olhando… tua curiosidade vai te matar. Pergunta logo.

Ela respirou fundo, meio sem jeito.
— Vocês se pegam?

— Você sabe que sim, eu já te contei. Que pergunta é essa?

— Mas o que eu não entendi… é um relacionamento aberto?

Mariana se adiantou, prática como sempre:
— Não temos relacionamento. A gente só se pega quando tá de fogo.

— Viu? Essa puta não me assume — falei de sacanagem, e levei um tabefe de Mariana.

Diana arregalou os olhos, ainda mordendo a dúvida.
— Mas… como foi essa coisa de você chupar ele com a Mariana vendo?

Aí eu contei. Falei que minha mãe não deixava ele ficar no quarto sozinho comigo, então Mariana sentou de costas, a gente ficou de peguinhas, e a coisa esquentou. Expliquei por cima, sem florear muito.

— E o pior, Diana… é que ela gozou benzão. E depois ainda foi pro banheiro e tocou uma com o chuveirinho, acredita?

Diana abriu a boca num sorriso incrédulo, a mão tapando a boca como se quisesse segurar o riso.

— Tô passada com você, Julinha.

Eu fiquei morrendo de vergonha. A garota devia estar achando que eu era uma puta… e era mesmo, né?

— E aí, Julinha… com toda essa história, depilou ou não? — Mariana soltou, venenosa.

— Sim. Isso foi antes da gente descobrir. — respondi rápido, já com a cara queimando.

Vale lembrar: Mariana tinha a versão oficial, aquela que a Diana sabia, não a minha.

— Cadê? Como ficou? — cutucou, sádica.

Eu estava sentada no chão. Respirei fundo, fui de joelhos, baixei o short e mostrei: virilha lisinha, sem um pelo sequer. E, atrevida, arreganhei as beiças pra inspeção.

— OOOO, GOSTOSAAA! — Mariana gritou, histérica, e já meteu a mãozona no meio das minhas pernas, que ainda estavam úmidas do ataque da Diana.

— Sai, garota! — eu berrei, desesperada, tentando puxar a roupa de volta antes que mais um show particular de sexo meu começasse.

A fofoca ainda corria solta quando minha mãe gritou da cozinha que o pé-de-moleque tava pronto. Descemos e nos sentamos na mesa, aquele clima de casa cheia. Logo depois chegou a pizza, e a conversa ficou mais leve.

Diana começou a contar da vida dela, e era exatamente o que eu imaginava: filha única de um casal de velhos que bancava tudo. As aulinhas que ela dava, segundo ela, eram mais pra ter um troco e conhecer gente do que por necessidade. Ela até dizia que gostava de ensinar, mas confessou que tinha dificuldade de fazer amizades.

Isso me pegou de surpresa. Nunca tinha passado pela minha cabeça que ela fosse assim. Sempre achei a Diana super de boa, com aquele jeito fácil de rir, e talvez por isso eu tenha gostado dela logo de cara.

Minha mãe acabou expulsando meu padrasto da mesa, sabe-se lá por quê — embora eu suspeitasse muito bem qual era o motivo — e ficou ali com a gente. Eu adorava quando ela sentava e começava a soltar as histórias dela. Mas as melhores mesmo eram as da minha tia, mãe da Mariana. Se a minha prima não tinha papas na língua, a minha tia então… nem se fala.

Reza a lenda que minha mãe também não era flor que se cheire. Claro que elas não contam tudo, mas dá pra pescar muita coisa na cumplicidade das duas.

O dia foi se apagando, a noite chegou, e a gente já não aguentava mais comer nada. Em algum momento — nem lembro quem puxou o assunto — Mariana resolveu contar como seria a primeira vez dela. E fez questão de teatralizar: começou a quicar na cadeira, rebolar e gemer baixinho, só pra provocar.

Todo mundo achava que Mariana era virgem. Mas não era nada, era piranha igual a mim.

Minha mãe vendo aquilo não sabia se berrava, se ria ou se levantava pra dar uma surra nela.

Lá em casa sempre foi assim: as mulheres falam de sexo abertamente, sem filtro. Era cada putaria pesada, e no final ainda virava sermão, tipo lição de moral quando nós duas estávamos perto.

Diana ria, encantada. Parecia que nunca tinha vivido um momento daqueles, e eu achei lindo ver como ela se soltava. E olhando pra ela, com aquele sorriso besta, me deu uma vontade enorme de agarrar a loira lerda e meter um beijão naquela boca rosa.

Mas eu sabia que não ia rolar tão fácil. Mariana ia dormir em casa e, embora não tivesse feito cena de ciúmes, dava pra perceber nas alfinetadas que soltava pra cima da Diana que tinha ali um quê de “território marcado”. Pra saber mesmo, só perguntando na cara. Então, decidi: a hora era agora.

— Vou no banheiro rapidinho — falei olhando direto pra Mariana.

Ela captou na hora. Virou pra minha mãe e, do jeitinho sacana dela, largou:

— Tia, vou no banheiro chupar sua filha, já volto…

Minha mãe caiu na pilha na hora, como sempre:

— Ô SUA QUENGA! NÃO QUERO CARALHA DE SAPATAGEM NA MINHA CASA NÃO, HEIN!

Eu juro que o berro fez até o cabelo da Diana voar. Mariana saiu fugida da mesa, desviando dos tapas e da chinelada que minha mãe tentou jogar no ar.

— Essas duas aí não valem nada… eu não duvido nada que se pegam mesmo, viu? — minha mãe comentou, com aquele ar de sabida.

No banheiro, tranquei a porta e sentei no vaso pra fazer xixi. Olhei pra Mariana e soltei logo:

— Vem cá… se eu ficar com a Diana, tu fica bolada?

Ela me encarou e sorriu safada.

— Não. Mas confesso que eu pegaria ela facilmente, hein!

A gente se olhou… ficou aquele silêncio carregado, só pensamento rodando. E então, rimos.

Diana não perdia por esperar.