Capítulo 62
— Mas, Júlia, como tu conseguiu isso? — ela falou, olhos grudados na tela, arrastando a foto pra lá e pra cá como se fosse tesouro. A boca dela enchia de água. — Porra, se eu soubesse tinha dado mole pra ele!
Ela ria, se esbaldando com a imagem, e eu quase suei frio. Fudeu, precisava inventar algo rápido — não podia dizer que eu tinha trocado nudes com o cara, porque eu me empolgo e perco o juízo; aí ela ia me coroar a nova piranha da família pra sempre. E a Carla é língua solta.
Fiz o que faço de melhor: inventei.
— Calma — soltei, com cara de quem lembra de tudo — Foi acidente. Acompanhou: minha mãe saiu correndo, deixou o celular na cozinha e eu, curiosa, fui fuçar o zap dela. Tava mexendo nas conversas para ver o que os dois falavam de mim, e do nada, começou uma conversa de sacanagem e achei essa imagem no meio. Mandei pra mim e apaguei o rastro. Pronto.
A mentira saiu redonda, na minha cabeça era boa. Se ela acreditou, eu não sei — mas ela continuou ali, fazendo graça.
— Meu Deus, chama esse homem agora, eu preciso sentar nisso! — ela gritou dramática, já fantasiando.
— Deus me livre, mulher — falei rindo, tentando parecer mais santa do que era.
— Manda pra mim? É pro meu TCC! — ela debochou, já estendendo a mão.
— TCC porra nenhuma, tu vai é se esfregar olhando pra foto dele.
— Ah, tá bom! E tu, por acaso, nunca tocou umazinha com essa foto? — ela cruzou os braços, olhando pra mim com aquela cara de quem não acredita em nada.
— NÃÃÃOOOO! — gritei rápido demais, teatral até.
A negativa saiu perfeita, convincente, mas por dentro eu sabia que era mentira descarada. Tinha acontecido uma única vez — e foi suficiente pra me deixar morrendo de vergonha só de lembrar.
Naquela época eu nem sei que mosca me mordeu. O cara vivia rodando a casa me comendo com os olhos e, quanto mais ele fingia normal, mais eu ficava acesa. Pode ter sido período fértil, safadeza, coisa de querer de me afirmar como mulher, foda-se o motivo. Eu comecei a provocar de propósito: deixei a alça cair e paguei um peitinho, fingia que não via e olhava de volta só pra ver ele engasgar. Ele pegou na hora, porque burro não é, e veio atrás de mim sem cerimônia.
Eu tava no cio, sem vergonha nenhuma, dedo fundo, porta aberta, cabeça longe. Ele entrou bem na hora. Vi o diabo encostado no batente com o pau duro, aquele olhar quente que me rasgou no meio. Gostei. Fiquei pior. Em vez de reclamar, fiz cara de safada, encarei e dei a ordem do jeito que eu gosto: fecha a porta.
Aí depois disso, que a poeira baixou, ele veio me dar um enquadro, só que o tesão já tinha passado, e porra, eu tinha atentado ele, não podia sair assim sem ouvir o que ele tinha pra dizer. Só que ele veio se insinuando pra comer e tal, mas na hora eu acho que ele travou e falou que ia mandar uma foto dele pra mim, eu fiquei meio que chocada e fiquei quieta. Foi aí que eu consegui a foto do pau.
Ah! Nota importante, eu mandei uma de volta, ele disse que se eu mandasse uma do mesmo jeito ele ia ser legal e falaria com a minha mãe pra deixar o moço do ônibus ficar lá em casa.
E eu mandei uma toda aberta e melada.
Claro que a Carla nem sonha como foi que eu consegui a porra da foto, senão minha vida virava um inferno. Quem sabe por alto é a Mariana, e nessa eu confio minha alma. A Carla ficou insistindo pra eu mandar e eu, ligeira, peguei o celular antes que ela deslizasse pro lado e visse minha galeria de rolas. Tinha algumas: do novinho aqui de casa, do Pedro, do Matheus e a dele. Nada mal pra quem transa há pouco tempo.
— Toma, diaba. Agora para de encher o saco.
Fiquei tranquila de mandar porque ela nunca teria como provar de quem era; só minha mãe reconheceria. E, pra garantir, me adiantei.
— Ô piranha, salva a foto e apaga minha mensagem — cheguei mais perto, ela já com o próprio telefone na mão. — Vai, deleta que eu quero ver.
— Tá, claro. Tu acha que eu vou falar pra alguém de quem é?
— Sei lá. Tu é doida. — falei e só sai de cima quando vi que ela tinha deletado sob protestos.
Carla cansou de olhar a foto no telefone dela, ficou pensativa e soltou:
— Será que aquele filho da puta tá tocando punheta pra gente agora?
As palavras entraram pela minha orelha e o corpo respondeu na hora: o peito arrepiou, o bico do peito endureceu, a sineta vibrou baixinho como se alguém puxasse um fio dentro de mim.
— Deve estar. Provavelmente. Minha mãe não tá em casa…
Eu tenho certeza que no silêncio que veio depois, nós duas estávamos imaginando a cena por que quando a gente voltou para a realidade, as duas cairam na realidade sabendo exatamente o que a outra estava pensando.
Mas logo o assunto mudou e ela começou a falar do motivo de ter vindo aqui em casa, era o tal do vestido pro jantar de um noivado de uma amiga amanhã, e daí emendou na empresa, nas pessoas, nos carinhas, um rosário sem fim. Eu tentei acompanhar, mas o celular vibrou e eu vi quem era e aquilo me desmontou inteira. “Caralho…”
Era o meu padrasto.
Ela seguia falando, se olhando no espelho do meu quarto, eu tirei o volume do aparelho e abri a mensagem rápido:
“Toda vez que eu vou aí no seu quarto eu tenho uma surpresa boa. Pode deixar que eu não conto nada pra sua mãe. Quer ver como vocês me deixaram?”
— Puta que pariu! — escapou alto.
Carla cortou a fala e virou, preocupada:
— O que foi, maluca?
— Nada não. Continua. Coisa da escola.
Eu segurei o telefone me tremendo e digitei:
“Foto não, quero vídeo.”
E enviei.
Na hora pensei: “caralho, eu não presto… vou acabar sentando nesse homem desse jeito”. E o pior: zero culpa. Só o ar curto e a cabeça zunindo com a ideia dele, em algum canto da minha casa, filmando o próprio pau pra mandar pra mim. Senti a umidade subir quente entre as pernas, tudo cremoso, a calcinha colando. Eu quase abaixei o short ali mesmo, mas me contive no truque: prender e soltar as coxas, apertar, soltar, de novo.
Eu ria e fazia “aham” pra Carla, mas minha mente tava noutro lugar. Tremor por dentro, calafrio de quem tá fazendo merda e gostando.
Vrrrrrr…
Celular vibrou. Olhei. Nova mensagem. Abri: era vídeo. Baixei, apaguei a conversa no ato e me encostei num canto estratégico do quarto, fora do espelho dela. A thumb toda preta, mas eu sabia.
Apoiei na cabeceira e meti o dedo no play.
Virei o telefone pra vertical na hora pra caber tudo. Eu já tinha visto aquele pau antes: grosso demais na base, afinando de leve até a ponta, cabeça bem desenhada, sem pele, veias saltadas em excesso. A luz do próprio celular deixava tudo brilhando, escorrido.
Meu estômago afundou e subiu num golpe só. Senti o calor abrir entre as pernas como se alguém tivesse passado a língua. A calcinha colou. Queimava de um jeito indecente. A respiração ficou curta, peito subindo rápido, aquele formigamento que começa no clitóris e vai estourando na barriga. Tive vontade de enfiar a mão ali, agora, mas fiquei dura, segurando o celular com as duas mãos, as coxas se apertando sozinhas, abrindo e fechando num compasso ridículo.
Ele começou a se masturbar devagar, quase provocando, como se mostrasse o peso pra mim, sobe e desce preguiçoso, a palma torcendo no meio. Depois acelerou de uma vez, socos curtos e firmes, e então desacelerou de novo, maldade pura. Eu mordi o lábio, tive que prender um gemido na garganta, sentindo a umidade descer mais, o corpo inteiro pedindo movimento.
Arranquei o short e a calcinha sem pensar. Carla falava olhando pro espelho, travou no meio da frase quando me viu nua, ela tinha um riso idiota colad no rosto, o olho era de surpresa.
— Carla, cala a boca. Confere a porta se tá trancanda e vem me chupar, caralho.

