Capítulo 64
Entrei no quarto. A Mariana tava deitada na minha cama e já tinha estendido um lençol sobre um colchão no chão pra “dormir” lá. Costume. No fim, sempre vinha parar comigo. Dormir agarrada nunca foi problema, era só hábito. Encostei a porta, virei a chave e fui entrando enquanto terminava de secar o cabelo.
Assim que me viu, ela soltou:
— Prima, o que a Carla tava fazendo aqui? — Ela perguntou sabendo a resposta.
— Sei lá. Coisa de um vestido pra minha mãe mexer. — Respondi sem interesse, desembaraçando o cabelo.
Ela sentou na cama com cara de quem tá sonhando acordada.
— A desgraça é bonita, né? — se ajeitou mais pra cima, abraçando o travesseiro. — Tu lembra que tinha uma quedinha por ela?
— Lembro, se lembro. Tu lembra do dia que ela dançou funk só de toalha e a bunda veio na minha cara? Dava pra ver tudo. — Mal sabia Mariana que eu tinha visto muito mais depois daquilo.
Mariana arregalou os olhos.
— Claro que lembro. Eu tava do teu lado. Esqueceu?
— Não…
Eu fiquei encarando a Mariana e comecei a achar o assunto estranho, com aquele cheirinho de armadilha dela. Era como se ela estivesse abrindo caminho pra eu falar alguma coisa sem parecer que tava perguntando. Eu conheço a capeta de parente que a Mariana é. Quando ela quer, ela sonda com jeitinho, dá volta, posa de desentendida… mas comigo isso não cola, eu enxergo nela de longe. Tava me sondando, óbvio, e nem tentou esconder direito.
— Mariana, vai logo antes que alguém entre no banheiro. Vai.
Ela catou as coisas, rebolou só pra provocar, passou por mim e deu uma buzinada no meu peito com a palma da mão, safada. Ganhou meia dúzia de ofensas na hora, riu da minha cara e saiu do quarto mostrando a língua, toda cheia de si, rumo ao banheiro.
Assim que ela saiu, meus olhos viraram sozinhos pro lençol da cama, num susto. Procurei por manchas como se minha vida dependesse disso. Dei aquela esticada no tecido, levantei canto por canto, olhei de lado. Nada visível. Tava tudo limpo aos olhos de mãe. Só um CSI pra deduzir que duas mulheres tinham se lambido aqui mais cedo, porque, de resto, parecia quarto de novela às oito.
Não deu nem dez minutos e chegou mensagem no celular.
Sentei na cama, nervosa, mão tremendo, e abri.
“Toda vez que eu subo aí tem coisa boa. Posso passar mais tarde? É muito melhor quando você deixa a porta aberta.”
Caralho. Eu tava alimentando essa porra. Ele tava ficando abusado. E o pior: eu tava gostando do jogo.
— Buceta, o que eu faço? — soltei alto, como se o universo fosse responder.
Escrevi:
“Não. Não vai ter nada. E minha mãe tá em casa, seu tarado.”
Só de imaginar ele vendo aquele vídeo eu ficava doida de tesão e, ao mesmo tempo, com medo real. Eu queria parar, mas tinha algo em mim que empurrava pra continuar. Eu sabia que era merda, eu sabia que era sacanagem com a minha mãe, mas eu não queria parar.
Ele respondeu:
“Tua mãe não quer que você faça a faxina, não é pelo dinheiro. Mas você podia insistir para me encontrar na minha casa. A gente ganhava um tempinho pra conversar.”
Na real, “conversar” era código pra eu dar pra ele. E isso eu não tinha coragem. O que me deixava elétrica era o jogo. O risco. O segredo. Ele, em si, não. E, quando vi, já tava entrando na barganha.
“Se minha mãe pega você falando essas coisas comigo, ela me mata. E meu pai te mata depois, sabia?”
A notificação mal piscou e ele já digitava.
“Ela tá na máquina costurando. Relaxa. Eu sempre apago tudo depois.”
Parei olhando pra tela, coração no salto, sentindo a pulsação na base da nuca. Eu sabia que tava brincando com fogo.
“Mas e aí? Qual vai ser?” veio a segunda mensagem dele, colada na primeira.
Respirei fundo, mordi o lábio e senti aquela mistura de medo com tesão que embrulha o estômago. O jogo tava rolando e eu não sabia jogar direito.
— Pensa, sua burra, pensa…
O problema de trocar nude é simples: uma hora vaza. Esse imbecil não ia me chantagear com essas fotos, não é burro a esse ponto. Ele sabe que perderia muito mais que eu. Minha mãe ia ficar puta comigo um tempo, mas ele ia ter que se esconder do meu pai a vida inteira para não morrer. E, nesse caso, até dos meus tios.
Na sinceragem? Não bateu culpa de mandar vídeo com a Carla. Talvez devesse, mas não bateu. Com a Mariana, jamais. Se ele desse qualquer insinuação de querer “uma fotinho” dela pelada, eu mesma descia e jogava água quente na cara dele enquanto dorme.
Na hora eu digitei:
“Cara, esquece. Eu não vou te dar. Esquece isso.”
Enviei firme. A resposta veio na sequência:
“Tudo bem. Você sabe que eu não vou encostar em você nem te forçar a nada. Só acho que a gente devia trocar uma ideia sobre o que aconteceu. Decidir se continua e como, ou se para. Eu sei que é arriscado e eu também tenho muito a perder.”
Pareceu razoável. Soou como controle na minha mão. Respirei e mandei:
“E o que você sugere?”
Ele respondeu:
“Fala com a sua mãe. Desce no meu apê. Nunca teve faxina nenhuma, você sabe. Eu queria era conversar. Só conversar. Tudo bem?”
Só deu tempo de eu digitar um “Vou pensar” e Mariana entrou no quarto falando alto, eu apaguei a mensagem rápido, escondendo a história dela, mas a desgramada me conhece.
Eu devia estar branca feito papel, porque a Mariana me encarou com a cabeça inclinada, igual cachorro quando não entende, olhos meio cerrados, farejando mentira.
— Que foi que tu tá amarela? — ela apertou. — Julinha, tu tá fazendo merda?
Eu soltei uma risada que nem eu comprei e empurrei a primeira desculpa que apareceu.
— Ahn… nada, não. Tô tentando falar com a Diana, mas ela não quer falar comigo.
Mariana veio sentar do meu lado, enrolada na toalha, encostou o ombro no meu, quentinha.
— Ahn, prima… ela deve tá com medo, né?
— Sei lá… — e era verdade, porque minha cabeça tava longe disso.
Ela, que odeia clima pesado, levantou, foi até a porta, virou a chave e voltou abrindo a toalha no caminho, descarada, me mostrando tudo entre as pernas.
— E aí. Tu curte uma mina peludaça? — disse rindo, exibindo um matagal com orgulho.
Olhei e não aguentei, ri também.
— Cara, há quanto tempo tu não bate uma gilete no azulejo?
— Sei lá… da última vez que eu estive aqui ele já tava grande. Nessas duas semanas eu nem usei essa porra mesmo… fui deixando crescer.
— E não te pinica, não? — falei meio demonstrando um nojinho.
— Não. Só quando tá crescendo. Meus pentelhinhos são fininhos — ela se inclinou pra frente pra olhar o próprio púbis como quem avalia obra de arte. — Tô pensando em deixar mais grandinho aqui na frente da testa e tirar o resto. O que tu acha?
— Acho que nunca tinha chupado uma mulher peluda. E vai ser agora — abri espaço na cama dando duas palmadas no colchão, chamando — deita aqui, mulher barbada!
Antes eu tava morna, sincera. Mas bastou ela abrir a toalha e mostrar a perereca que o fogo subiu. Em mim acendia assim: um formigamento atrás da orelha, bem na nuca; o peito arrepiava inteiro; um calor redondo nascia no centro das pernas; a respiração falhava por um segundo e voltava pesada, quente. Meu corpo começava a esquentar feito brasa coberta, e eu já sabia onde isso ia dar — mas agora eu estava até que bem.
Mariana deitou e se ajeitou na cama. Eu fiquei de braços cruzados, rindo, com aquela cara de “e aí, minha filha, vai liberar logo a pelucinha ou não?”. Quando eu entrava nesse modo, a Mariana se escangalhava de rir e a coisa desandava. Eu nem queria transar; eu tava era de fogo. Por amor à família mesmo.
Nem rolou beijo na boca. Eu já caí no meio das pernas dela, brigando com os pentelhos, abrindo caminho com a língua e com a ponta do nariz. Era esquisito no começo, faltava aquele maciozinho de pele lisa no contato da boca, mas o cheiro veio quente, o gosto veio doce e a estranheza virou vontade. Meu queixo roçou no pelo, minha boca achou o contorno, e eu fui indo, empurrando a pelugem com a língua até sentir o caminho certo pulsando por baixo.
A pentelhagem toda começou a roçar na minha boca e aquilo me acendeu de um jeito besta. Era daquele tipo de chupada que a gente dá pra sentir prazer em si, não pra dar. Eu entrei nesse transe: virei o olho, me esbaldei, esfreguei a língua por baixo dos pelos, mordi de leve, totalmente alienada do mundo. Quando me dei conta, a Mariana tava em espasmo, empinando toda, parecendo a menina do Exorcista, zero barulho porque enfiou o travesseiro na cara. Eu continuei, firme, até a hora em que ela tentou me esmagar a cabeça com as coxas e, num safanão, me empurrou enfiando um dedo dentro do meu olho. Eu gritei de dor na hora.
Matou o clima. Acabou o sexo ali mesmo. Resumo da ópera: hospital.
Julinha virou pirata.

