Capítulo 1

De todos os homens com quem já me deitei, Leon era, sem dúvida, o que mais me rasgava por dentro. Tinha nele algo estranho, um imã que me puxava sem que eu conseguisse explicar. Às vezes era todo carinho, dedos leves no meu cabelo, voz baixa dizendo que eu era linda; no segundo seguinte virava bicho, olhos vidrados, respiração pesada, como se precisasse me engolir inteira para continuar vivo. E não era violência, não… era outra coisa, uma fome que não pedia licença, que não sabia parar.

Eu adorava isso. Meu Deus, como eu adorava. Quando ele perdia o controle comigo, eu me sentia necessária, quase sagrada.
”Se ele fica assim comigo, é porque eu valho alguma coisa”, repetia baixinho na minha cabeça enquanto o coração batia descompassado.

Leon se cuidava de um jeito doentio. Academia todo dia, dieta medida na balança digital, depilação a laser até no saco, perfume caro que ficava no travesseiro por horas depois que ele ia embora. O corpo dele era escultural, linhas duras, pele bronzeada, aquele V que descia da cintura e fazia minha boca encher d’água só de olhar. Era lindo demais. Lindo demais pra mim.

“Ele vai te trocar, sua burra. Uma hora aparece uma mais nova, mais magra, mais tudo”, a voz dentro de mim não calava nunca. Eu tentava ignorar, mas o medo ficava ali, grudado no peito, apertando. Porque eu sabia: eu era só mais uma na fila, e ele era o tipo de homem que escolhe, não o que é escolhido. Eu me olhava no espelho e via as estrias fininhas na lateral da bunda, os seios que já não ficavam tão empinados sem sutiã, a barriguinha que insistia em aparecer depois do almoço. Nada grave, mas nada perfeito. E ele… ele era perfeito.

Depois dos seis meses alguma coisa quebrou dentro dele, ou talvez tenha se aberto de vez. Leon começou a me cobrar mais, não com palavras doces, mas com aquele olhar pesado, aquele silêncio que pesava mais que tapa. Queria que eu inventasse no sexo, reclamava que eu era morna e não melhorava, que eu tomasse a frente, que eu chegasse nele com ideias sujas e fizesse acontecer. E eu tentava, mas na hora H travava completamente. Minha boceta latejava só de pensar, mas minha cabeça gritava:

“Eu não sei fazer isso, eu preciso que você me mande, caralho.”

— Você é uma vadia preguiçosa — disse ele numa noite, voz baixa, com um desgosto enorme, enquanto me olhava de cima, nu, o pau duro encostando na minha coxa.
Aquilo entrou como faca e, ao mesmo tempo, fez minha calcinha encharcar. Eu queria chorar e gozar na mesma hora.

Naquela mesma semana a briga estourou. Ele jogou na minha cara que eu nunca procurava, nunca surpreendia. Fiquei quieta, mordendo o lábio até machucar, sentindo o rosto queimar de vergonha e raiva. Quando ele saiu batendo a porta, me joguei na cama e fiquei ali, olhando pro teto.

“Preciso fazer alguma coisa, senão ele vai embora mesmo.”

Pensei em poledance. Imaginei eu rebolando num poste, luz vermelha, ele de olhos arregalados. Mas levaria meses pra aprender e meu relacionamento não aguentava esperar. Pensei na Joana, aquela minha amiga que transa com meio mundo e adora contar detalhe por detalhe. Quase mandei:

“Quer vir dar pra gente?”

Apaguei na hora.

“Que nojo, eu não suporto cheiro de mulher, não suportaria outra boca no pau dele.”

Só de imaginar já me dava ânsia.

Restaram duas ideias que não saíam da cabeça.

A primeira: foder em lugar público. Só de pensar meu coração disparava. Eu me via encostada numa parede suja de algum beco, saia levantada, ele me pegando por trás enquanto alguém podia passar a qualquer momento. Sempre gostei de me mostrar, sempre gozei mais forte quando tinha risco de ser vista. Mas queria que acontecesse do nada, que ele me agarrasse sem avisar, que fosse ele mandando, não eu planejando. Se eu sugerisse, perdia a graça.

A segunda ideia era mais escura, mais funda. Sentia ela latejando entre as pernas toda vez que lembrava dos vídeos de madrugada: mulher de joelhos, olhos baixos, chamando de senhor, apanhando, agradecendo. Meu corpo respondia antes da cabeça entender.
”Eu quero ser mandada. Quero que ele decida tudo. Quero que doa um pouco e que eu peça mais.”

Eu não sabia porra nenhuma além do que todo mundo que leu “50 Tons” acha que sabe: chicote, algema, cara rico mandão. A parte da dor me dava um frio na barriga esquisito, mas a ideia de ficar de joelhos, de ouvir “cala a boca” e obedecer sem pensar… puta merda, aquilo acendia um fogo que subia da boceta até a garganta.

Passei a noite inteira rolando vídeo atrás de vídeo. Mulher amarrada, mulher chorando de tesão, mulher sendo chamada de vadia enquanto gozava. Algumas cenas me reviraram o estômago na hora, fechei a aba com nojo. Outras assisti três, quatro vezes, pernas cruzadas com força, respirando pela boca pra não gemer alto.
”Que isso, sua tarada do caralho”, me xingava, mas não conseguia parar. Meu corpo inteiro respondia: mamilo duro, coxa tremendo, um fio de baba escorrendo que eu nem percebia.

E do nada tive a ideia de ver coisas num sex shop, ter ideias novas. Escolhi um na pesquisa e comecei a encher o carrinho como quem monta enxoval de putaria. Lubrificante, um vibrador grosso que parecia assustador, uma palmatória de couro que jurava “não machuca” — mentira deslavada, comprei só pra ele ver e rir da minha cara. Algemas fofinhas com pelúcia rosa — ainda achava que ia ser bonitinho —, venda de cetim preta, uma lingerie de renda que mal cobria os mamilos. Coloquei até uma cueca boxer preta pra ele, imaginando o volume marcando e quase gozei só de pensar.

Mandei o link.

— Amor, topa um lance BDSM? — minha voz saiu fina, ridícula.

— Se for porque você quer mesmo, e não só pra me agradar, eu topo pra caralho — respondeu, já me alfinetando como sempre.

— Então entra aí com meu login nesse site e bota o que quiser no carrinho, depois a gente decide junto.

— Fechado. — Seco.

Fiquei toda orgulhosa da minha iniciativa. Durante a semana, muito corrida, pouco tocamos no assunto — amigos, rolês, correria — a coisa ficou meio esquecida até a sexta à noite, ele não veio por conta de uma chuva desgraçada. Eu estava sozinha em casa de camisola velha. Abri o site por curiosidade. Carrinho zerado.

“Filho da puta apagou tudo?” — pensei puta da vida lidando com minha inabilidade em usar a internet.

Fui ver o histórico de pedidos e quase derrubei o celular.

Compra concluída. Três mil e poucos reais. Cordas vermelhas de algodão japonês, pinças de mamilo com corrente, calcinha com vibrador interno, máscara de couro total, um kit de plugs anais que ia do mindinho ao meu antebraço. Tudo sem me perguntar porra nenhuma.

— EU NÃO VOU BOTAR ISSO NO MEU CU, SEU ARROMBADO! — gritei pro quarto vazio, voz ecoando nas paredes.

Disquei tremendo de raiva. Ele atendeu no primeiro toque, calmo demais.

— Leon, que porra de compra foi essa? Tá louco? Me consultou em que momento, hein?

Silêncio. Depois, voz baixa, quase um ronronar:

— Você disse que queria BDSM. Então vai se acostumando, vadia. A partir de agora você obedece.

Desligou na minha cara.

Fiquei olhando pro celular, boca aberta, coração na boca. Deveria estar puta da vida. Deveria bloquear, xingar, terminar. Em vez disso, um sorriso safado, lento, imbecil, foi se abrindo no canto da minha boca.

“Caralho… eu gostei disso.”

Apertei as coxas com tanta força que doeu.

“Eu gostei pra caralho.”