Capítulo 7
Voltei para casa passando mal de tanto rir e comer. Havia tempos que eu não me divertia assim com alguém. Em casa, ela abriu um espaço improvisado no armário para eu acomodar algumas coisas. No dia seguinte combinaríamos de dividir tudo direitinho. Ela pegou uma muda de roupa para tomar banho e se trocar para dormir.
Lembrei do que senti da última vez e tentei me controlar. Ela tirou o vestido ali no quarto, sem pudor, e atravessou até o banheiro de calcinha e sutiã, exibindo a bundinha lisa e branca. Na hora me deu um impulso de dar um tapa, mas não tive coragem. Eu não sabia se havia intimidade para um contato tão direto.
A casa era pequena. Mudar de cômodo não atrapalhava a conversa. Da porta do quarto dava para cruzar a visão pela sala e, se a porta do banheiro estivesse aberta, ver a pessoa embaixo do chuveiro. Todos os cômodos — inclusive a entrada — eram conectados à sala, sem corredores.
E dali eu a vi, sob a ducha, num banho nada romantizado, corpo pequeno, gesto prático, como se não ligasse de ser vista. Meu corpo despertou de novo. Pensei em mil razões para ir até lá e ficar com ela, mas segurei. Eu estava morando com ela agora; se parecesse invasiva, criaria um clima ruim logo de cara.
Quando ela terminou o banho, fui eu para o banheiro. Coloquei minhas coisas sobre o vaso, olhei para fora enquanto ela circulava enrolada na toalha. Na cabeça, só uma pergunta: “Será que eu deixo a porta aberta?”. Eu não tinha tanta facilidade para tomar banho na frente dos outros, mas queria que ela me visse. Queria ser desejada.
Enquanto eu não chegava a um consenso, fui tirando a roupa e pendurando num canto, tentando captar alguma pista dela do que eu deveria fazer. Ela falava de uma amiga, de uma briga absurda, e de como um dia foi parar na delegacia quando, mais jovem, duas meninas encheram ela de cachaça.
Ela passava por mim e parecia nem notar que eu estava sem roupa. Entendi aquilo como rejeição. A vergonha veio fria sobre a pele e me fez fechar a porta. Parei de pé, nua, diante do espelho de corpo inteiro atrás da porta, e observei meu corpo por alguns instantes. “Será que eu sou desejável?” Eu sabia que sim. Meu corpo era bonito, acima da média, e eu tinha pouco do que reclamar — exceto por umas estrias pequenas de um lado.
Toquei-me e percebi que estava levemente molhada, denso, mas não exatamente excitada. Balancei a cabeça, recobrei o juízo e prendi o cabelo para não molhar. Quando eu finalmente ia girar o registro, ela bateu na porta.
— Oi! — gritei, para quem estivesse do lado de fora ouvir.
— Tá fazendo cocô? — ela perguntou, rindo.
— Não. Você vai vigiar minha rotina, é? — gritei do lado de dentro.
Ela esmurrou a porta com força.
— Abre essa porra aí, caralho!
A voz dela atravessou a porta como um raio. Eu travei. O coração disparou. Abri só o suficiente pra ela entrar, torcendo pra que desistisse, mas ela não desistiu. Liguei o chuveiro e deixei a água cair nas costas, tentando esconder o corpo e o nervoso ao mesmo tempo.
Ela entrou com uma calma tranquila. Abriu o armário, puxou o secador e encheu o banheiro com o barulho quente do vento. O som cobria a sua voz quando ela falava, e como ela falava. Tomei banho rápido, mas o tempo inteiro com o olho nela, tentando decifrar se havia alguma intenção no olhar.
Nada. Só naturalidade.
— Eu queria deixar pra lavar o cabelo amanhã, mas ele tá nojento demais pra esperar. O ruim é que amanhã ele vai ficar todo pra cima — falou, pausando o secador.
— Mas teu cabelo é liso, como é que ele vai ficar pra cima? — perguntei, meio boba.
— Sei lá, fica esquisito — ela respondeu, desligando o secador. Me olhou de frente, descaradamente, de cima a baixo, e soltou: — Tu tem um corpão, mulher!
O elogio veio direto. Quente. Quase indecente.
— Obrigada… — respondi sem jeito, cobrindo os seios com a toalha. — Para de me olhar, sua sapatão. Sai pra lá!
Ela riu. Mas não era o riso leve de antes. Era outro. Um que arrastava algo por baixo, uma provocação.
— Esse negócio de porta eu não ligo, sabia? Se quiser deixar aberta, deixa. Pode bater tua siririca tranquila, fazer teu cocô em paz — falou rindo, mas olhando firme de forma jocosa.
— Eu não bato siririca no banheiro… — “só no de rodoviária”, pensei, e me segurei pra não rir.
— Também não gosto, sei lá. Mesmo sendo o meu banheiro, acho meio sujo — respondeu, balançando o cabelo com os dedos, os fios embolados nas pontas.
— Eu também. Mas não é por isso. Eu gosto de conforto. De me desligar.
— Tu é de se tocar muito? — ela perguntou, sem desviar o olhar.
— Depende. Defina muito.
— Tipo… todo dia.
— Não, depende do dia. Tem uns diazinhos que é foda, viu… — falei, sorrindo. — Quando meu período fértil chega, até o tecido da calcinha me deixa molhada.
Ela riu, baixo, observando eu me vestir.
— Mulher é tudo igual, não adianta.
Enquanto ela penteava o cabelo, lembrei do que tinha visto nas gavetas dela — e a curiosidade latejou. Fingi distração e soltei:
— Lelê, tu é mais de mão ou de brinquedos?
Ela parou. Fez uma expressão entre sincera e tímida.
— Prefiro a mão. Gosto de sentir o corpo, de controlar o ritmo. E meus dedinhos… são mágicos — disse, rindo, mexendo os dedos no ar.
— Ah, sei… — respondi, fingindo deboche. — Tu tem a maior cara de gostar de umas coisas mais apimentadas.
— Eu? Imagina. Sou toda vanila — disse, simples, sem desviar.
Olhei fundo, procurando mentira, mas ela tava limpa. Nada. Só a verdade estampada. Talvez os brinquedos fossem só para serem usados com alguém…
— E vibrador, tu não curte?
— Não muito. E você?
— Tenho um. Mas é barulhento pra caralho. E às vezes, sozinha, fico meio sensível, até dói.
— Sim. Igual. Fico dormente rápido — ela concordou, olhando pro espelho.
Na verdade, eu sabia bem o que era. Pra usar o vibrador, eu precisava estar pronta, corpo pedindo. Quando eu forçava, a vibração me deixava anestesiada, sem prazer. Servia pra quando eu queria gozar logo, mas o que me fazia perder o fôlego era me tocar devagar, sentir o corpo reagir, crescer, até o prazer vir pesado e acachapando tudo, e eu não precisar de mais nada.
A água já tinha parado há minutos, o banheiro cheirava a vapor e shampoo. Eu vesti o pijama devagar, com o pano grudando na pele quente, e soltei:
— Queria um desses que a gente coloca dentro, sabe? Aqueles que têm Wi-Fi. Que alguém controla pelo celular.
Ela ficou em silêncio sem nenhuma reação. Eu esperei, fingindo ajeitar o pijama.
Bingo!
Ela encostou o quadril na pia, cruzou os braços e me olhou com um canto de sorriso.
— E tu deixaria alguém controlar? — perguntou, a voz baixa, carregada.
O ar pesou. O banheiro pequeno ficou grande de silêncio. Eu não respondi — só olhei pra ela e vi o mesmo brilho do riso de antes, aquele que vinha com intenção.
— Ué, deixaria, a ideia dele é justamente essa!
— Mas tipo… — ela fez uma pausa e a cara dela ficou toda safadeza — assim… na rua, sentada num restaurante.
— Putz. A ideia mexe comigo. Acho que sim. Se tivesse uma chance mínima de ninguém perceber… eu faria.
Meus bicos ficaram duros de verdade. O frio virou tesão. Cruzei os braços só pra segurar a vontade de apertar.
— Eu tou com um aí — ela soltou, baixo, com um rubor que não combinava com o sorriso.
Fiz a sonsa pra ela falar mais.
— Ah é? Sabia. Tu tem cara de quem gosta.

