Capítulo 8

Ela riu, guardou o secador, apagou a luz do banheiro e foi pro quarto. Fui atrás, grudando no encalço, ouvindo a história sair dela como quem confessa e se excita ao mesmo tempo.

— Era de uma menina que eu peguei um tempinho atrás. Na real era da sogra dela — ela revirou os olhos — ela pegava escondido na casa do namorado. Enfim, confusão. Acabou ficando comigo. Um dia ela inventou de a gente sair com ele ligado. A coisa dentro de mim e ela com o celular, controlando.

— E?

— E que a idiota brigou comigo no meio da rua. Fiquei puta, virei as costas e fui embora. Com o troço dentro. E o pior: quando o celular ficava longe, ele dava umas piscadas sozinho. Umas vibrações rápidas, como se estivesse me procurando. Imagina no ônibus com aquela merda gostosinha dentro de tu?

A imagem me acendeu. Senti a calcinha colar. Ela abriu a gaveta da cômoda, tirou de dentro sem deixar eu ver o restante e jogou na cama. Eu sentei na beirada. Ela ficou em pé, encostada na janela, braços cruzados, olhando pra mim como quem entrega a arma para alguém cometer um crime.

O brinquedo era curvado, discreto, tinha um formato romboide de gota com uma anteninha. Ela pegou o celular, instalou o app em segundos, sincronizou. O brilho da tela iluminou o rosto dela.

— Funciona assim — disse, deslizando o dedo. O motor respondeu com um ronronado baixo. Eu engoli seco querendo rir de nervosa.

A coisa vibrava e ela controlava a intensidade pelo aparelho. Na hora eu tive um impulso de correr para o banheiro para experimentar, mas isso seria mega esquisito. Eu fiquei com o troço na mão vidrada naquilo.

— Se tu quiser eu te empresto, só pedir.

— Porra sério? Só na tua história isso passou por umas três bucetas diferente, fora as que você não contou. Meio nojento né?

Ela riu, era verdade.

— Lavou tá novo, mas ela não insistiu.

Fiquei ali, o brinquedo quente na palma da mão, estudando o formato curvado, a textura lisa, o brilho úmido que a luz do quarto fazia refletir. Ele era bonito, discreto, quase inocente — e mesmo assim eu sabia o que ele podia fazer. A pele do meu pescoço queimava. Lelê me olhava com aquele ar preguiçoso e cheio de perigo. Tudo nela parecia um limite, uma beira. Bastava um passo errado e eu cairia.

— Bota eu aí pra eu ver — falei, meio rindo, estendendo o brinquedo pra ela.

Ela ficou me olhando, séria. Os olhos desceram pra minha mão, voltaram pro meu rosto. Por um segundo eu vi: ela pensou em aceitar.

— Por que tu quer minha cara de prazer, é? — respondeu, arqueando uma sobrancelha. — Coloca você. O banheiro tá ali. Quer lubrificante?

A pergunta veio mansa, mas entrou direto. Fiquei muda. Ela tinha me lido, e o pior é que estava certa.

A imagem me pegou inteira: eu com aquilo dentro, andando pela casa, tentando parecer normal enquanto a vibração me tomava por dentro. O rosto quente, a boca entreaberta, o corpo lutando pra não se entregar. E ela ali, no sofá, rindo, controlando cada tremor.

Precisei respirar fundo. O ar veio curto, pesado. O brinquedo ainda estava na minha mão, mas agora parecia vivo, quente, pulsando na pele. Eu tentei disfarçar, mas o rubor denunciou.

Se a gente tivesse bebido o suficiente, eu podia culpar o álcool. Mas não tinha bebida nenhuma. Era só ela — e o perigo doce de um desejo que já não dava pra negar. “Meu Deus, eu estou dando mole pra mulher. Descaradamente.”

Eu comecei a ficar envergonhada com a conversa quando ela tirou o aparelhinho da minha mãe, guardou sem comentar, e não mostrou os outros que eu sabia que estavam ali. Puxou um banquinho de uma penteadeira que já não existia, subiu na pontinha dos pés e alcançou uma caixa no alto da prateleira.

— Não olha, ok? — ela disse, esticada, puxando a caixa com a ponta dos dedos. — Sério, não olha. Vira pra lá.

Obedeci, curiosa. De rabo de olho, só captei o movimento quando ela desceu, pegou algo na mão e tateou a parede perto do rodapé. Demorou o suficiente pra minha curiosidade doer. Quando eu já ia virar, ela encostou alguma coisa em mim e ligou.

O toque pegou no meio das minhas costas. A vibração atravessou a espinha e me arrancou um susto que me fez saltar sentada na cama e girar num pulo.

— Que isso??? — falei ofegante. Quando vi o que era, demorei um segundo pra processar.

Parecia um aparelho de massagem. Ou de tortura. Cabeça grande, corpo longo, uma vibração absurda. Tão potente que precisava ficar plugado na tomada. Lelê segurava o bicho com uma cara de quem apronta, enquanto o zumbido alto enchia o quarto.

— Caramba… isso é muito forte. — falei admirada sem tirar os olhos.

De travessura, ela encostou a cabeça do vibrador, ainda ligado, um pouco abaixo do próprio púbis, só de frente pra mim. O choque foi imediato: tirou o ar dela, que se encolheu, cruzou as pernas e deu uma semiabaixada, rindo, sem conseguir disfarçar a micro explosão de prazer não solicitada. Eu ri junto, empolgada com a cena.

— Garota, isso aqui é muito bom. Quer experimentar? — ela tinha a coisa ligada na minha direção como se apontasse uma arma.

Peguei. Era grande, um pouco pesado. Pensei no estrago. “Com isso dá pra gozar em um, dois minutos”, calculei, sentindo a calcinha aquecer. Não sei se Lelê percebeu de cara o que tinha acendido em mim, mas a primeira investida veio na sequência.

Ela tomou o troço da minha mão, apontou pra mim — eu sentada na beira da cama, pernas cruzadas — e falou, simples:

— Vai. Abre as pernas.

Eu fiz o contrário da ordem. Encolhi os joelhos, colei um no outro e soltei num grito curto:

— Não!

— Vai, deixa de ser chata. Eu fiz em mim, foi só um toquinho — ela insistiu, rindo, encostando a cabeça do vibrador nos meus joelhos. Quando a coisa batia no osso, doía de leve e eu me encolhia mais. — Anda, mulher… “abre-t que eu vou lhe usar!”

A risada dela desmontou minha defesa. Aceitei a brincadeira, descruzei as pernas tremendo.

Quando ela veio, o meu corpo agiu por conta própria. Fechei de novo, em reflexo, várias vezes, e ela precisou recuar. O mais perto que conseguiu foi quando segurei o bichão entre as coxas para me “defender”. O choque correu de dentro pra fora como uma corrente elétrica fina. Fiquei quente num estalo e tive um ataque de riso nervoso.

— Anda, porra, para de frescura. Arreganha essas pernas aí…

— Calma… calma… devagar — eu ria e tentava respirar, enquanto ela me ameaçava com aquela cabeça enorme, chegando e recuando, só pra me deixar doida. — Pronto… agora vai.

Abri as pernas rápido. Ela veio junto. Eu estava sentada e a cabeça do vibrador pegou na testa da criança quase onde o clitóris nasce, do que nele propriamente. Só que o que eu senti não foi pequeno. Meu Deus.

A primeira onda bateu por dentro como se alguém puxasse um fio preso na minha espinha e acendesse tudo de uma vez. Um calor denso subiu do osso do púbis até a boca do estômago, abriu um campo de formigamento por baixo da pele e espalhou faísca pelo couro cabeludo. O ar ficou curto. Minha boca abriu por nervoso, os olhos arregalaram. E então aconteceu algo estranho.

Ela não retirou o brinquedo.

Eu perdi a fronteira do corpo. Por um instante, não havia pele. Havia vibração. A cabeça do brinquedo não parecia tocar “um ponto”, parecia tocar todos ao mesmo tempo: o clitóris em eco, os lábios pulsando, o períneo vibrando como se tivesse uma corda esticada. Cada micro movimento dela ampliava tudo, e o banco sob minha bunda virou tambor, batendo no mesmo ritmo. Minha coxa quis fechar, meu quadril quis seguir a frequência, e eu fiquei entre as duas vontades, suspensa, sem saber se pedia mais ou se implorava para parar.

Um segundo, virou dois, logo três e ela não retirou o brinquedo e eu não tinha forças.

— Assim… — ela sussurrou, ajustando o ângulo num gesto mínimo.

O mínimo virou tudo. A vibração acertou o ponto exato. Meu abdômen contraiu, as costas se curvaram por reflexo, e um som escapou da minha garganta — curto, quase um soluço engasgado. A eternidade coube em três segundos que se repetiam, cada um mais fundo que o anterior. Juro que a luz do quarto piscou junto com meu corpo.

Os dedos das minhas mãos se fecharam, primeiro tentando rasgar os próprios seios, depois caindo abertos na cama em busca de sustentação. Não havia mais defesa. O corpo inteiro se abriu, dócil, entregue, como se o prazer fosse um comando antigo que finalmente encontrava resposta. A vibração atravessava tudo, quebrando o ar em ondas. Cada nova batida me puxava mais pra dentro de mim, e eu deixava.

Eu estava agora deitada já e meu amor próprio me deu forças para me tirar de uma vergonha que eu poderia carregar pelo resto da minha vida.

— Lelê para — fechei as coxas e empurrei a mão para fora — Para, senão eu vou gozar.