Capítulo 21

Eu nem tinha começado de verdade. O pau dele tava quente, pulsando na minha boca, crescendo a cada segundo, tomando aquele tamanho que eu já reconhecia com a língua. Era como se meu corpo soubesse o caminho de cor, como se minha boca tivesse sido moldada pra caber ele ali.

Chupava gostoso, com vontade, sem pensar em mais nada. A cabeça do pau batia na minha língua, na minha garganta, depois voltava e batia na minha cara com aquele som molhado, indecente. Eu estava entregue. Alheia ao mundo. À rua. Às pessoas que passavam. Ali, entre os bancos do carro, eu era só boca, tesão e poder.

— Falta muito?

— Pra eu gozar? — ele perguntou, ofegando.

— Não… pro motel.

— Próxima esquina…

— Então não goza.

E foi aí que eu sorri. Maliciosa. Malvada. Sabendo exatamente o que ia fazer.

Com uma mão firme segurando a base, enfiei tudo na boca de uma vez só. Até a garganta. Até sentir o pau todo pressionando, ocupando cada espaço. Ele arfou alto, quase tirando as mãos do volante. Eu segurei firme o quadril dele, impedindo qualquer movimento, e comecei a trabalhar.

Chupava fundo, engolia e puxava, fazendo a garganta contrair em volta dele. Alternava a força, o ritmo, o tempo — sugava devagar, depois descia rápido, deixava a língua girar na cabeça e voltava com um estalo molhado. Uma tortura. Uma arte.

O gosto dele se intensificava, aquele salzinho pré-gozo que avisava: ele tava por um fio. E eu… eu fazia de propósito. Queria ver ele se perder, mas não deixar gozar. A cada vez que ele estremecia, eu mudava o ritmo. Parava. Lambia a base. Passava a língua devagar pela veia lateral, só pra não deixar ele cair no abismo.

— Puta… que… pariu… — ele resmungava entre os dentes, tentando segurar o volante e o próprio gozo ao mesmo tempo, enquanto virava a esquina todo torto, como se dirigir tivesse virado um esporte radical.

Levantei a cabeça só um pouco, o rosto ainda quente e molhado, pra ver onde estávamos. O letreiro vermelho do motel já aparecia na frente, piscando feito sinal divino. Uns cinquenta metros, no máximo. Se eu não parasse, era capaz dele passar direto pelo guichê com o pau enfiado na minha garganta.

— Fecha a calça, cowboy — brinquei, rindo, limpando discretamente a boca com o dorso da mão. — Diabo de calça apertada!

Ele se ajeitou como pôde, com as mãos trêmulas, o pau tentando brigar com o zíper que mal fechava. Quando estacionamos diante do guichê, fui rápida: puxei o cabelo pro rosto, virei um pouco de lado, fiz de tudo pra esconder o rosto da câmera. Cidade pequena é uma merda. Até o moço do portão pode ser seu vizinho.

Depois que o portão abriu, seguimos devagar até encontrar a garagem aberta. Ele entrou com o carro e já saltou em seguida, com o pau ainda marcando a calça — não, “marcando” não, implorando socorro. Teve que puxar a blusa pra frente, cobrindo a ereção evidente.

Eu fui mais prática. Peguei minha bolsinha no banco de trás, limpei o canto da boca com um lencinho e puxei o retrovisor. Dei um zoom no batom.

— Nossa… que batom bom! — comentei, surpresa. — Depois de um boquetão desses, não saiu e nem borrou. Vou comprar mais amanhã.

Saí do carro ainda rindo da própria besteira… e foi aí que ele me golpeou como um raio.

Ele veio pra cima de mim com uma fúria que quase me fez recuar. As mãos me agarraram com força, colando meu corpo no dele como se ele precisasse me engolir pra aliviar aquele fogo todo. O homem estava insandecido. E eu sabia que era culpa minha — tinha deixado ele naquela situação. Mas eu precisava ir ao banheiro. Urgente. Depois de tanta comida e tanto refrigerante, minha bexiga gritava.

— Ei, ei, ei… calma! Me soltaaaa… — falei rindo, mas meio séria. — Eu vou gritar, hein!

Ele me soltou, mas ainda ficou ali, pegando, colando, como se tivesse medo de eu fugir.

— Vocês, mulheres, e essas bexigas minúsculas — reclamou, com aquele tom meio indignado, meio bobo.

— Quase achei que tu ficou irritado — provoquei, dando um passo pra trás. — Vem, vamos ver o quarto.

Puxei ele pela mão, subindo o pequeno lance de escada que levava ao quarto. O piso ainda úmido, o ar abafado, cheiro de lençol limpo misturado com desespero de motel barato. Ele se soltou por um segundo só pra voltar e fechar a garagem, que tinha ficado aberta.

— Meu Deus, tu queria me pegar de porteira aberta mesmo — falei, rindo e balançando a cabeça enquanto subia.

O quarto não era ruim. Mas também não era exatamente… convidativo. Tinha aquele ar de lugar que já viu coisa demais, sabe? Cortinas pesadas, iluminação baixa tentando esconder o passado estampado nas paredes. Talvez tenha sido minha cara — aquela mistura de desconfiança com nojo discreto — porque ele se apressou em se justificar.

— Desculpa. Era o que tinha de melhor. E olha… faz anos que não venho aqui. É velho, mas pelo menos é limpo.

Assenti, sem muito comentário. Tinha tudo que um motel padrão tem: cama grande, espelho no teto, controle remoto encardido e, claro, uma daquelas “cadeiras do amor” que mais parecem instrumentos de tortura medieval. Tinha também uma hidromassagem e… piscina. Sim, piscina. Numa cidade de serra onde de noite faz quase zero grau. Juro, eu nunca entendi isso.

Peguei minha bolsa e fui direto pro banheiro. Antes de qualquer coisa, chequei o secador de cabelo — item de sobrevivência. O banheiro até que era bonitinho, moderno. Tava limpo. Ou desinfetado até a morte. O cheiro de cloro e desinfetante era tão forte que meus olhos começaram a arder.

A porta era de blindex com adesivo fosco, o que significava: pouca ou nenhuma privacidade pra quem precisasse de verdade usar o vaso. Mas fazer o quê? Encostei a porta, sentei, fiz meu xixi e levantei logo em seguida pra cuidar da minha higiene. Nada ali me dava confiança pra ficar tempo demais.

Olhei minha bolsa, numa busca vã de procurar algo para colocar, eu não tinha nada, não que eu não houvesse esquecido, eu não tinha mesmo, nunca fui de comprar lingerie para agradar homem e Junior nunca havia se interessado nisso, ele dizia ser bobagem, que homem gostava de mulher nua, eu sentia falta de usar essas coisas como minhas amigas, eu só tinha levado uma troca para voltar para casa. A unica coisa sexy que eu poderia fazer era voltar para aquele quarto completamente nua em pelo, pior, nem depilada direito eu estava.

Peguei o telefone só pra dar uma olhada rápida — tinha deixado ele no mudo. Três notificações. A primeira era do Fernando, falando alguma coisa sobre o relatório da tarde. Ignorei. A segunda era da Manu, dizendo que tinha adiantado uns compromissos, que eu podia passar lá depois se quisesse levar o “moço” junto. E ainda completou: “Dessa vez eu não vou me meter.” Ri disso. Claro que ia se meter, porque eu ia puxar ela pro meio.

Mas a última… era dele.

“Espero que tenha uma noite maravilhosa e goze bastante. Grava vídeo e me manda, por favor. Durmo tarde.”

Eu reli aquilo. Não era a primeira vez que ele escrevia algo assim. E, mesmo assim, sempre batia em mim do mesmo jeito. De um jeito ruim. De um jeito que doía.

No fundo, no fundo, o que eu queria mesmo era que ele dissesse outra coisa. Algo tipo: “Sai daí agora. Volta pra casa. Eu vou ser o homem que você conheceu. Eu juro.” E se ele falasse isso… eu iria. Não sei explicar por quê, mas eu iria. Com raiva, com vergonha, com tudo. Mas iria.

E talvez fosse exatamente por saber que ele não ia falar isso que doía tanto.

Junto com a mensagem, vi que ele tinha ligado três vezes. Três.

Aí eu fiz o que eu sempre faço quando quero me torturar: liguei de volta.

Ele atendeu na primeira chamada.

— Oi, Junior.

— Você tá onde?

— No motel. Acabei de chegar.

Silêncio. E então, seco:

— Não fez nada ainda?

— Eu disse… acabei de chegar.

A voz dele parecia firme, quase indiferente. Mas eu conhecia. Conhecia bem demais. Tinha algo ali por trás — um tom contido, entre o controle e o desespero. Como se ele estivesse tentando não se despedaçar.

— Nada, não… só queria saber de você.

— Ficou com ciúmes? — devolvi, venenosa. — O que foi, senhor Gosto de ver minha mulher no pau de outro? Mudou de ideia agora?

Eu sabia que doía. E era justamente por isso que falei daquele jeito. Pra agulhar.

— Eu nunca disse que não ficava com ciúmes… — ele respondeu, baixo. — Isso é novo pra mim também. Mas… sei lá. Eu gosto da ideia.

Antes que eu pudesse responder, meu acompanhante bateu discretamente no vidro do box.

— Tudo bem aí?

Abri uma fresta na porta do banheiro, levantei o celular e sussurrei com a boca meio torta:

— Junior.

Ele entendeu na hora. Fez uma careta engraçada e sussurrou de volta:

— Ah, tá…

— Tudo, Junior… — falei no telefone. — Eu vou lá, tá?

Enquanto isso, o homem que estava comigo falava baixinho, encostado na porta:

— O que ele quer, meu Deus? Se torturar?

— Sei lá… — dei de ombros, mas meu corpo já tava voltando pro quarto.

Junior ainda falava alguma coisa no outro lado da linha, tentando me prender ali. Eu mal prestava atenção. Ele tentava jogar mais uma isca.

— Ele quer vídeo de novo? — o homem perguntou, encostando no meu ombro.

— Pediu sim…

— Fala que a gente faz chamada — e riu, debochado, achando graça da situação.

— Se eu falar, ele vai querer.

— Por mim, tudo bem…

Voltei a atenção pro celular. Junior estava no vazio, esperando minha resposta. Eu ri da resposta do cara, fiquei tentada.

— Junior… eu vou lá. Se eu lembrar, eu mando alguma coisa, tá?

E desliguei antes que ele me pedisse mais um absurdo.

Me virei pra ele ainda com o celular na mão, rindo nervosa, meio incrédula:

— Tu faria mesmo uma chamada assim? — perguntei, com a sobrancelha arqueada, sem disfarçar a provocação.

Ele nem hesitou.

— Faria…

— Não acredito…

— Pois acredite… — ele se aproximou, encostando as mãos na parede atrás de mim, me cercando. — Eu sou mais sem vergonha do que você pensa.

O corpo dele colado no meu começava a me lembrar exatamente onde a gente estava. O clima voltou com tudo, grosso, quente, grudando na pele. Meus olhos desceram até a calça dele, ainda tensionada, ainda cheia. E eu ri, balançando a cabeça.

— Você é doido.