Capítulo 22
Ele riu estirado na cama, como quem não processa o que acabou de acontecer, e levantou cambaleando até uma porta lateral — devia ser o banheiro. Olhei o colchão: manchado, úmido, cheio de esperma e saliva. Fui até o balde de gelo para pegar vinho. Bebi, mas ele não conseguia apagar o gosto na minha boca, aquele que eu normalmente adorava. Na cabeça, meu cérebro folheava as “leis do meretrício” tentando decidir se era a hora de ir ou ficar. Mas não combinamos tempo e nem o clássico “gozou, sai fora”.
Fiquei ali, imóvel, bebendo. Esvaziei o copo, enchi de novo, até deixar a garrafa tão vazia quanto eu.
Quando ele voltou, o pau vinha pendendo, só um eco de vida. Se masturbava no caminho, numa tentativa patética de ressuscitar. Eu, que conheço a vida adulta, sabia: se quisesse muito, teria de esperar pela segunda rodada.
Passou por mim estalando a mão na minha bunda num tapa vulgar e parou na beira da cama. Sorriu feito bobalhão e decretou:
— Vem. Fica de quatro.
Falou com o direito de um namorado, e aquilo entrou torto em mim. Ele queria me comer; me pagou pra isso. No começo tudo ia bem, mas no meio do caminho ele desandou. Eu era um redemoinho por dentro. Sim, eu gosto de sexo, ele é bonito. A parte de me vender nem era o problema — por aquele dinheiro devia existir outro nome pra isso. O que me incomodava era o “direito” que ele achou que tinha sobre meu corpo, como se pudesse fazer qualquer coisa e me tratar de qualquer jeito, na verdade ele podia.
Passei os dedos entre as pernas pra conferir: molhada. Mas quando enfiei a pontinha, senti o corpo mais fechado. “Se esse idiota vier sem cuidado, vai me machucar.” Respirei fundo, tentei me “descolar” por dentro, alongando com jeitinho, e me posicionei de quatro na cama. Fiquei ali, firme, esperando.
Sexo tem pausas que me irritam profundamente: quando ele para para pôr a camisinha e, pior, quando eu estou de quatro e o sujeito atrás decide fazer outra coisa, tipo mexer no celular. Fico ali, buceta exposta, tomando vento, encarando a parede e esperando ansiosa o momento de ser preenchida.
Eu sentia o peso dele atrás, o colchão cedendo, e o “tch tch” aflito da punheta tentando ressuscitar. Devia ser nervosismo, porque começou a falar demais:
— O dinheiro mais bem gasto da minha vida. Eu casava com você.
Romântico, mandão, agora eufórico. Estranho. Eu ali, empinada, rebolando de leve como parte do show, tentando dar corda e encerrar logo. Vieram carinhos ruins. Não que eu não goste, mas eu não estava nesse clima. Tapas fora de tempo me davam sustos e me fechavam por dentro. Os dedos abriam minha carne às pressas, quase rasgando. E, pra piorar, ouvi o escarro e senti a cusparada no meu cu. A saliva quente escorrendo pela pele me acendeu um nojo seco, imediato.
— Nem pensar. Nada de cu. — saiu seco da minha boca como uma vespa.
— Poxa… você tem um cuzinho rosado perfeito.
Fechei o corpo, travando de propósito pra não dar margem. Ele ainda tentou forçar passagem com os dedos, e só parou quando afastei a sua mão da minha bunda. Quando encostou o pau, esfregou no meu meio, procurando o caminho ainda meio mole. A glande roçou meus lábios, abriu a fenda sem paciência, e eu senti o quanto estava escorrendo. Empurrou de novo, como quem tenta enfiar uma meia num vão teimoso: entrou um pouco, escorregou, saiu. Na terceira, a cabeça entrou de vez, quente, e meu corpo cedeu num clique silencioso.
Eu abracei. A musculatura soltou um tique de reflexo e a haste foi sendo engolida aos poucos num deslizar úmido, direto na minha vagina. Assim que passou da borda, a fricção mudou: por dentro, macio e apertado, moldando o que tinha, mesmo sem estar completamente duro. A cada centímetro, meu quadril se ajustava sozinho, a lombar arqueava, os joelhos se afastavam mais. O calor subiu pelo baixo-ventre num fio elétrico. Um gemidinho traiu minha boca, quase um “huumf”, bem na hora em que ele encostou no fundo e parou.
Começou a empurrar curto, acomodando dentro de um espaço justo. Lá dentro ele não firmava de verdade, ia e voltava meio mole, perdendo forma no meio do caminho. Ainda assim, a sensação era boa: minhas paredes moldavam o que havia, abraçavam, davam um leve vácuo na saída e puxavam na volta. Eu queria sentir duro, queria aquele peso inteiro batendo fundo, mas não vinha. Respirei pelo nariz, deixei o corpo trabalhar no automático e decidi o resto: aumentei o rebolado, apertei o períneo, gemi no lugar certo. Passei a mão no próprio quadril para abrir mais, murmurei um “assim… isso” bem ensaiado. Era gostoso o bastante para o corpo aceitar, mas eu guiei a cena com barulho, ritmo e elogios calculados, fingindo a subida que ele precisava ouvir enquanto mantinha tudo funcional por dentro.
Pensei: “Será que eu finjo que tô gozando?”. Ele batia forte, mais pancada que penetração, cansava, caía o ritmo, e dentro de mim amolecia mais ainda. “Se ele manda eu sentar, não entra. É agora.”
Eu puxei o ar e subi o volume. Gemidos longos, molhados, na cadência que ele precisava. Rebolei de propósito, apertei o períneo, deixei o som tremer na garganta.
— Assim… isso… vai, vai… tô perto… só mais um pouco… mais forte!
O pau dele não machucava, era incapaz; o que doía era o choque do corpo dele batendo na minha lombar. Ele arfava pesado, suor salpicando minhas costas. Eu intensifiquei o teatro: respiração quebrada, dedos amassando o lençol, bacia tremendo como se viesse um pico. Forcei um soluço de prazer, deixei as coxas tremerem no tempo certo, apertei por dentro como se um espasmo me atravessasse e soltei um meio grito controlado, vibrando o “ah” até virar suspiro.
— Para… para… espera — falei ofegante, voz trêmula bem no limite. — Me dá um segundo… sensível… se você continuar agora eu desabo.
Afastei a mão pra trás, toquei sua barriga como quem pede trégua, ombros tombando pra frente. Respiração curta, tremida, olhos fechados.
Corpo em pose de pós-gozo.
Silêncio calculado.
Ele soltou um riso falso, quase automático, enquanto eu ainda tentava recuperar o fôlego.
— Mas já? Eita, menina… você é fraquinha mesmo, hein.
Ouvir aquilo me fez rir por dentro. Era o típico comentário que a gente finge que não escuta pra não se irritar.
— Pois é… comprou banana podre na feira.
— Que nada — ele respondeu rápido, tentando consertar — você é linda! Eu adorei!
Ele sentou-se do meu lado na beirada da cama e ficou me olhando como se meu corpo fosse um quadro prestes a ser retirado da parede. Um misto de admiração e melancolia estranha, como se soubesse que não ia se repetir. E não ia mesmo.
— Eu quero tomar um banho. Quer ir primeiro? — Ele falou acariciando minhas costas com a ponta dos dedos.
— Quero sim. Posso ir agora? Você me espera?
— Claro. Não demora muito. Vou aproveitar e pedir um Uber.
“Graças a Deus”, pensei. Poucas vezes na vida eu fiquei tão feliz em ser discretamente expulsa depois de transar.
Levantei rápido, quase tropeçando nas próprias pernas. Peguei minhas roupas — ainda penduradas de forma ridícula na arandela, como se eu tivesse tentando parecer organizada — e fui direto pro banheiro. Eu só queria me arrumar e ir embora.
Mal consigo lembrar dos detalhes daquele banheiro agora. Acho que era bonito. Moderno, elegante demais pro resto da casa, como se tivesse sido reformado há pouco tempo. Tudo ali parecia limpo, novo, meio frio. Um contraste gritante com o que eu sentia por dentro.
Joguei as roupas em cima do vaso fechado, abri o chuveiro e deixei a água quente cair sobre mim. Fiquei parada ali, imóvel, como se pudesse deixar o barulho da água abafar o barulho da minha cabeça.
A culpa vinha em ondas. Não uma culpa moral, de “pecado”, mas aquela culpa silenciosa de quem sabe que fez algo que não precisava. Era muito dinheiro, sim, mas não o suficiente pra mudar minha vida. E se eu fosse sincera comigo mesma, eu sabia: tinha sido impulso. Eu podia ter conseguido aquele valor de outro jeito — um empréstimo, um bico, qualquer coisa. Mas não. Eu escolhi o caminho mais rápido. E o mais difícil de encarar depois.
A água escorria quente e, por um instante, achei que eu fosse chorar. Mas não saiu nada. Eu não me sentia suja. Nem arrependida. Nem feliz. Só… vazia.
E o mais estranho é que, no fundo, eu não achava que ele era um cara ruim. Eu teria até namorado o Vitorino, se as coisas tivessem acontecido de outro jeito. Mas ali, naquele contexto, ele era só mais um. Mais um homem comum, desses que a gente tenta entender, tenta gostar, tenta consertar um pouco — mesmo sabendo que não vale a pena.
Quando o vapor começou a embaçar o espelho, fechei o chuveiro. Me sequei devagar, sem pressa, como quem tenta se recompor pra voltar a caber dentro da própria pele.
Me vesti e fui embora.

