Capítulo 25

Quando tudo começou, a gente sabia onde tava se metendo. Tava claro que ia ter beijinho de língua, mão boba no peito, apertão na bunda e essas palhaçadas. A gente aceitou. Mas ninguém falou do prazer. E é aí que mora a desgraça. Porque o prazer é o pai da culpa. Ele vem primeiro, vem gostoso, e depois deixa a gente sozinha com a cabeça fazendo barulho.

O que a gente teve foi bom. Estranho, confuso, íntimo demais. Mas bom. E eu gostei. Mesmo sabendo que não devia. Tenho certeza que ela também. A Juju finge que é mais desencanada, mas eu conheço o corpo dela. E ele tremeu como o meu.

O problema era esse: querer. A gente queria. Mas sabia que não podia. Ela também tinha seus limites, mesmo que mais frouxos que os meus. Ainda assim, tinha.

— A gente precisa conversar sobre isso. — falei.

— Sobre o quê? De se pegar? A gente já conversou, não? — a voz dela veio do escuro, seca, meio irritada. Dava pra sentir que ela agora queria encerrar o assunto.

— Eu sei… mas e o prazer? A gente tá fingindo que não sentiu. E isso também é mentira.

Eu respirei fundo, puxei o lençol e me sentei na cama. Meus olhos já estavam acostumados à escuridão e eu via ela mais claramente na escuridão, quieta.

— Ou a gente conversa agora… ou para com isso de vez. Para e finge que nada nunca aconteceu. Escolhe.

— Eu não quero escolher!

Eu ouvi ela puxar o ar com força. Daquele jeito que a gente faz pra não chorar. Teve um silêncio enorme, pesado, e quando ela falou de novo, a voz já tava embargada.

— Pra você tudo parece fácil, né? Você acha que é simples pra mim ficar o dia inteiro pensando na porra da minha irmã com tesão?

O tom era de quem tava com raiva, mas a raiva era só uma casca. A voz dela tremia. Dava pra sentir o choro agarrado na garganta, mas ela não parou.

— Caralho, garota… o que você vai ser agora, minha namorada também? Meu deus… a gente vai pro inferno, sabia?

Eu já tinha pensado em tudo aquilo. Eu já sabia. Já sentia aquela culpa por cada segundo. Mas ouvir de sua boca foi um tipo de soco estranho. O que me surpreendeu mesmo foi ela, logo ela, jogando moral na mesa. Ela, que sempre mandava tudo se foder.

— E o que você quer fazer então? — perguntei no escuro.

Silêncio. Depois, ela respondeu baixinho, quase sussurrado:

— O que eu quero? Eu quero não enlouquecer. Porque quando você falou que voltou e não gozou… eu fiquei toda melada. Toda, por sua causa. Com vontade de dizer: “eu faço você gozar então, irmãzinha.”

Ela fez uma pausa, como se precisasse tomar fôlego.

— Aí eu fui pra live… e pela primeira vez eu gozei ao vivo. Pensando na minha irmã, caralho! NA MINHA IRMÃ!

Ficamos as duas caladas no escuro. Eu sentia o quarto inteiro apertar em volta da gente. Como se tudo tivesse mudado de lugar. Porque tinha mesmo.

Eu não soube o que dizer. Minha garganta tava seca e tudo parecia frágil demais pra ser tocado com palavras. Então só falei, baixinho:

— Vem cá… me abraça. Vem dormir comigo, agarradinha, igual quando a gente era criança. Vem…

Ela veio. Do jeitinho que sempre vinha. Com o travesseiro debaixo do braço e a coberta arrastando pelo chão. Se jogou na cama sem jeito nenhum, feito gata pedindo colo, e se enroscou em mim, o corpo inteiro colado, se esfregando como quem pede carinho sem dizer. Eu a apertei com força. Beijei sua testa. Arrumei o cabelo dela pra trás com a ponta dos dedos. Passei a mão de leve nas bochechas e senti — ela tava chorando.

Ela respirava fundo, o peito subindo e descendo encostado no meu. O hálito dela tinha gosto de menta, e quando me olhou, na penumbra do quarto, tudo que eu via eram aqueles olhos brilhando brancos no escuro. A gente ficou ali, caladas, aninhadas, meio presas naquele momento, até que nossos rostos se aproximaram demais. Os narizes se tocaram. E então os lábios também.

O beijo começou lento, carregado de respiração e silêncio. Era como se nossos lábios não soubessem exatamente como se encaixar, mas ao mesmo tempo parecessem destinados a se procurar ali, naquela escuridão. O gosto da boca dela era familiar — menta doce e alguma coisa quente que era só dela. A língua veio tímida no início, deslizando devagar, quase como um pedido de desculpa. E eu deixei. E eu quis.

Meu coração batia tão forte que parecia ecoar no peito dela também, ritmado, urgente. Nossos braços foram se apertando, os corpos se encaixando num abraço que dizia tudo que a gente não conseguia falar. As mãos deslizaram pelas costas, depois pelas curvas, e o toque era cuidadoso, mas cheio de fome. Uma fome antiga, contida, que agora se espalhava como fogo aceso num campo seco.

O que começou como consolo virou necessidade. As coxas se entrelaçaram. As respirações se tornaram arfadas. E cada detalhe do corpo da outra passou a brilhar como se tivesse sido descoberto pela primeira vez — o contorno da cintura, o peso dos seios, o calor das peles coladas. O carinho virou desejo. O desejo virou pressa.

O que era calmo virou tempestade.
E tudo explodiu ali mesmo, no meio da noite.

Quando as mãos já não obedeciam mais, minha respiração virou gemidos contidos, quentes, quase um pedido. Ouvir o som dela me atravessou como choque e me deixou mais acesa. Segurei sua cintura e apertei a bunda com força, sentindo a carne ceder nas minhas palmas, enquanto eu me esfregava na coxa dela até o osso esquentar. Ela me buscou no escuro com um beijo mordido e eu subi as mãos por dentro da blusa de dormir, amassando os seios por cima do tecido fino até os bicos endurecerem entre meus dedos. Um suspiro dela me quebrou por dentro.

Empurrei mais a perna contra o centro dela, sentindo o calor úmido se espalhar na minha pele. Meu quadril respondeu sozinho, roçando, deslizando, pedindo. Quando ela meteu a mão por baixo do meu short e achou meu suor entre as coxas, eu arfei. Dois dedos escorregaram pela fenda, abriram caminho, e entraram em mim molhados, inteiros, do jeito que eu precisava. Meu corpo apertou em volta e eu agarrei seus ombros para não perder o ar. O quarto girou. Ela marcou um ritmo lento, fundo, e eu gemi no ouvido dela, suja e feliz, sentindo cada empurrão bater em minhas paredes como se fosse a primeira vez.

O ar tocou minha pele como água morna quando a última peça caiu. O quarto cheirava a sabão do lençol misturado ao nosso suor, denso, doce. Senti a boca dela encontrar meu pescoço e um arrepio correu fino pelas costas. O calor da respiração bateu na minha orelha e eu ouvi meu próprio coração, alto, irregular, como se ocupasse o quarto todo. A língua dela desenhou um caminho úmido pela minha pele e cada beijo pareceu acender um ponto novo, um mapa inteiro latejando. O gosto salgado da minha própria pele ficou no canto da minha boca quando mordi os lábios para não gemer tão alto. O som que escapou dela, baixo e faminto, vibrou no meu osso, e eu afundei os dedos no cabelo dela para não me perder.

Ela desceu com calma cruel, roçando a ponta do nariz entre as minhas clavículas até achar meus seios. Primeiro foi um beijo aberto, quente, a língua contornando o bico como quem prova fruta madura. Depois, a sucção veio firme, redonda, puxando meu mamilo para dentro da boca, estalando leve quando soltava e voltava a sugar. A mão dela apertou o outro seio, o polegar brincando em círculos até doer gostoso. Cada puxada me atravessou o ventre e desceu em ondas, como se o corpo inteiro respirasse ali. Eu gemi curto, quebrado, e minhas pernas abriram sem eu mandar.

Os dedos dela não saíram de dentro de mim em momento nenhum. Estavam encaixados fundo, quentes, escorregadios, mantendo um ritmo que me desmontava. Eu sentia o deslize fácil, o barulhinho molhado marcando o tempo junto com a sucção no meu peito. Toda vez que ela afundava mais, eu encharcava a mão dela de novo, um excesso que escorria para a minha coxa. Ela curvou os dedos por dentro e acertou um ponto que me fez arquear, ofegante, e eu senti meu sexo pulsar em volta deles, pedindo mais. O mundo ficou pequeno: a boca sugando, a saliva esfriando na pele, o cheiro forte de tesão no ar, o som úmido entre minhas pernas. E eu, aberta, molhada até perder a conta, presa na boca e na mão dela como se fossem a única coisa que existia.