Capítulo 31

O silêncio caiu pesado. A sala pareceu grande demais e muito vazia. Arrumei a calcinha devagar, ajeitei o top, mas meu corpo ainda vibrava. A pele das coxas colava úmida, e o cheiro doce e salgado do sexo ficou no ar. Eu estava satisfeita com a minha performance. Levantei pra acender o resto das luzes quando senti.

Uma presença pequena.

Um deslocamento de ar. No corredor, mais espesso de penumbra. Virei o rosto como quem procura um controle, mas eu procurava um olhar. Meu corpo soube antes: a nuca arrepiou, o ventre deu um aperto reflexo. E gritei em espanto:

— Juju?

Ela botou a cara e se revelou. Tava me observando no escuro, do mesmo jeito que eu fiz da outra vez.

— Caralho, garota, que susto! — soltei, mão no peito, branca. — O que você tá fazendo aí?

— Ahn, não seja chata, garota. Tava vendo você trabalhar só…

— Então… você viu tudo. Não viu?

— Vi. Olha… eu até te daria um dinheiro. Fiquei molhada te assistindo.

Ri sem graça, escondi o rosto nas mãos e fui andando na direção do banheiro pra me secar. Quando passei por ela, Juju me puxou num abraço curto e me deu um beijo nos lábios. Meu corpo congelou por um segundo. Eu não entendi aquele beijo, mas senti meu corpo reagir. Fingi normalidade e segui pro banheiro.

Quando eu voltasse, eu ia abrir a cam de novo.

Com a minha irmã.

Eu tava no meu momento, rindo boba. O gim batia bonito, minhas bochechas rosadas, a pele formigando. O xixi pós-orgasmo desceu quentinho, fazendo meu corpo tremer no final. Eu sempre gosto desse after, a boceta ainda pulsando, o cheiro doce e salgado do meu gozo no ar. Fiquei feliz por ter deixado a mulher do outro lado satisfeita. Pensei nela, no jeito que devia morder o lábio, quando Juju apareceu na porta.

— Filha, não demora. Hoje você já sabe, né?

— Sei o quê? — provoquei, só pra ouvir ela falar.

— Mostra peitinho, beija, aperta e só. Sem passeio extra. Ouviu?

— Sim, eu sei…

— No privado a gente se toca, mas regra é clara: sem pele com pele entre a gente. Brinquedo vale, vibra, sugador, tudo. A gente performa lado a lado, cada uma na sua. Se vier pedido especial, a gente avalia.

— E se pedirem pra gente se pegar? — soltei curiosa. No fundo eu queria que pedissem por mais que eu negasse.

Ela encostou no batente, fez as contas com os olhos, boca de quem decide preço.

— Eu vou meter um valor alto pra caralho. Se a pessoa pagar…

— Se a pessoa pagar… — repeti, papagaio safado, esperando a sentença.

— Se pagar, a gente fode, que caralho! Tu tá gostando de mais de foder a própria irmã pro meu gosto, hein sua esquisita. — Ela fez uma cara de raiva enorme. — Sério, eu estou começando a ficar com medo de você.

— Calma… — sorri amarela, o gim não me deixava articular direito. — Até parece que você não gostou também.

E aí pronto, não sei se era eu ou a bebida falando, mas soltei sem pensar o que queria saber há dias. Eu queria entender o que ela sentia com tudo aquilo. No fundo, eu sabia: se ela estivesse sentindo o mesmo que eu, não saberia lidar.

Ela me olhou, desviou, e respondeu do jeito mais bruto possível:

— Garota, lava essa boceta mijada e vambora trabalhar.

A frase veio seca e certeira. Eu ri sem graça, sem coragem de retrucar. Ela saiu rebolando pelo corredor e o som dos pés descalços se misturava ao clique dos brincos balançando. Fiquei parada por uns segundos, vendo a sombra dela sumir.

Me lavei direito, tirei o cheiro de álcool da pele, passei perfume e vesti de novo o top colado e a calcinha mínima. Quando voltei pra sala, ela já estava ajeitando as câmeras. Sentei ao lado, sentindo aquele calor conhecido subir de novo.

O chat ferveu assim que entrei no quadro. As mensagens vinham em ondas, uma atrás da outra:

“Tô vendo duplo?”

“Duas? Já to bêbado ou são duas deusas?”

“Mostra o clone de novo.”

Eu ri. Ri de verdade. Tava divertida, leve, meio tonta. Os comentários pareciam ecoar no som abafado do gim que ainda rodava no meu corpo. Juju também ria, jogando o cabelo pra trás e provocando:

— Tá vendo, amor? Agora são duas. Duas bocetas, o dobro do prazer.

Ela dizia isso e o número de gorjetas subia feito pipoca. O dinheiro jorrava no canto da tela, as notificações piscando. Juju sabia o que fazia. Eu só acompanhava o ritmo, meio desajeitada, ia seguindo ela.

Ela me puxou pra frente da câmera, e os comentários enlouqueceram. As pessoas queriam comparar: peito, boca, quadril. Coisa que eu sempre odiei — esse negócio de ser cópia, de virar espelho do corpo da outra. Mas ali, com a bebida no sangue e a grana caindo, eu só ria.

— Fica de lado, mostra o perfil — Juju disse, e eu obedeci.

— Agora as duas — pediu um no chat.

Viramos de costas, descendo devagar as calcinhas, os quadris se encontrando no meio do quadro. O chat explodiu.

“Caralho, parecem moldadas no mesmo molde.”

“Aí, bota as duas de quatro.”

Eu olhei pra Juju. Ela riu, me deu um tapinha na bunda e sussurrou:

— Vem, vamo brincar.

Nos ajoelhamos lado a lado, empinando, as luzes do ring light desenhando as curvas. A câmera tremia de tanta gente entrando. Os comentários eram uma avalanche de palavrões, gorjetas e promessas de riquezas. Eu sentia o calor do corpo dela pertinho, a respiração roçando no meu ombro. O som dos cliques no teclado era quase um gemido coletivo.

De repente, apareceu uma mensagem diferente. Um nome em destaque, gorjeta absurda.

“Quero show das duas. De verdade.”

Juju viu antes de mim. Parou o movimento, endireitou o corpo e mordeu o lábio.

— Olha isso, Ju… — mostrou a tela. — Esse valor não é gorjeta normal. É proposta.

Meu estômago virou. O ar ficou espesso. Ela se ajeitou na cadeira, digitou algo, e o chat acalmou, como se todo mundo segurasse o fôlego esperando.

— Ele quer um show das duas. — A voz dela saiu firme. — Tipo, juntas.

— Juntas como? — perguntei, fingindo não entender, mesmo já sentindo o sangue descer pra boceta.

— Como ele quiser ver.

Ela me encarou. Por um segundo, não existia câmera, nem chat, nem dinheiro. Só nós duas, e a tensão que a gente vinha evitando desde o primeiro beijo. O sorriso dela era de quem sabia que eu não ia dizer não.

— E aí, irmã… — ela disse, com aquele tom entre desafio e desejo. — A gente negocia?

Fiquei em silêncio, o coração batendo no mesmo ritmo do cursor piscando na tela. O cheiro de suor, perfume e lubrificante misturava tudo num ar elétrico. Eu só consegui responder com um meio sorriso.

Juju digitou rápido. O som da notificação foi alto, seco, como um tiro. Show aceito. Era muito dinheiro, oral e vibradores ao mesmo tempo.

Ela virou pra mim, o olhar brilhando.

— Pronto. — Ela sorriu nervosa, com uma cara de pânico, arrumou o cabelo e respirou. — Agora é com a gente.

A tela do privado abriu com o som seco da notificação e tudo ficou mais silencioso do que antes. O valor apareceu no canto, grande, e eu senti o estômago afundar do mesmo jeito que afunda quando a gente resolve fazer algo que sabe que muda a história. Juju ajeitou o cabelo, puxou o top para baixo como quem puxa de volta a coragem, e me olhou com aquela mistura de “vamos juntas” e “não dá pra voltar”.

— Vê se não gosta demais — alfinetou ela.

O chat ficou limpo. Só o nome do cliente em destaque e o cursor piscando. A primeira mensagem veio rápido:

“Quero vocês se beijando.”