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6 minutos
Cheiro de Encontro

Fugindo do chefe, ela entra pela porta errada no backstage e dá de cara com Jungkook. Um encontro improvável, íntimo e prestes a sair do controle.

22/04/2025

Capítulo 2#

Me joguei numa das cadeiras, desconfortáveis, mas ainda assim, um alívio. A luz era fria, o ar-condicionado gelado demais, e mesmo assim meu corpo começou a relaxar. Tava sentada, com o rádio no colo e o celular na mão, e aos poucos… cochilei. E no meio do meu sono alguem me cutucou

Annyeong… Jeogiyo, jamkkanmanyo. Mwo jom mureobwado doilkkayo?

Desesperei. Era alguém do time deles. Um produtor, pelo crachá no pescoço e um tablet moderno da Samsung na mão. Me levantei na hora, nervosa por ele ter me pegado quase dormindo, e dei aquele sorriso amarelo, disfarçando enquanto limpava discretamente a baba no canto da boca. Soltei meu melhor inglês, com a voz ainda meio embargada.

— Ei, desculpa. Podemos falar em inglês? Meu coreano é… bem básico.

Ele riu, gentil, e trocou pro inglês sem hesitar.

— Qual a cor dos crachás de imprensa 8A e 8B?

Peguei o celular, procurei rapidinho na tabela e respondi com firmeza, querendo mostrar serviço.

— Amarelo e laranja. Mas, atenção: tem também o 8F, que foi descontinuado. Pode aparecer gente com ele, mas essas pessoas não estão autorizadas, tá bom?

Ele sorriu, agradeceu com um aceno, anotou algo em coreano num papel e se despediu. Caminhou até uma porta que até então estava fechada — uma daquelas que só abrem por dentro — e passou por ela de volta sem pensar duas vezes.

Fiquei olhando. Aquela porta…

Ela nunca tinha aberto antes. E agora estava entreaberta. Nem trancada, nem fechada direito.

Curiosa, me levantei e fui até lá, como quem não quer nada. O corredor do outro lado parecia comum. Igual a todos os outros daquele estádio. Mas alguma coisa em mim dizia que ele não deveria ter deixado aquilo aberto.

“Não é nada demais”, pensei. “Só vou dar uma olhadinha.”

E como ainda faltavam duas horas pra começar o meu trabalho de verdade… e ninguém ia aparecer antes disso mesmo… eu fui.

Fui bisbilhotar.

Conforme fui andando, percebi: aquele corredor era da staff deles. Nada de gente do nosso time por ali. Bateu uma onda de adrenalina. Eu sabia que eles podiam estar por perto. Abri o mapa no celular, só pra confirmar… e lá estava: aquela ala era cheia de escritórios cedidos pra equipe deles. E logo adiante, do lado da clínica médica, ficavam os camarins. Os camarins. O último lugar antes do palco.

Respirei fundo. Eu estava quase na área mais restrita do backstage.

Pensei rápido, disquei qualquer número, encostei o celular na orelha e comecei a fingir uma conversa super importante. Falei baixinho, como quem discute algum detalhe de produção, enquanto andava devagar, como se estivesse ali resolvendo um pepino profissional. Tudo pra não chamar atenção.

Se eu andasse só mais um pouco… só mais alguns metros… eu provavelmente estaria a poucos passos de onde eles estavam agora. Meus olhos brilhavam. Eu estava nervosa. Tentava andar firme, sem fazer contato visual com ninguém da equipe coreana. Se eu fingisse direito, talvez achassem que eu pertencia àquele ambiente.

Mas logo vi que aquilo não ia funcionar.

Meu coração despencou quando vi, saindo da última sala do corredor, meu chefe babaca. O mesmo que me mandou pra ala morta da coletiva. Ele vinha conversando com um grupo, rindo alto. Se ele me visse ali, era demissão na certa. E nem teria como fingir: minha blusa era de uma cor diferente da equipe deles. Ele ia saber na hora que eu não pertencia àquela área.

Pensei rápido.

Não dava pra voltar, ele ia me ver de costas. E isso entregaria tudo.

Foi puro instinto.

Mergulhei na primeira porta que estava à minha esquerda, sem pensar. Girei a maçaneta e entrei direto, sem bater.

O coração batia na garganta. Eu só queria não ser pega.

Mas quando fechei a porta atrás de mim e olhei ao redor… minha respiração travou. Foi como se o ar inteiro do planeta tivesse sumido daquele cômodo. Meu peito afundou, minhas mãos começaram a tremer, e um grito nasceu dentro de mim, lá do fundo da barriga, pronto pra explodir pela garganta — mas eu segurei.

Eu tive que segurar.

Não podia gritar. Não podia cair de joelhos. Não podia sair correndo em círculos que nem uma louca.

Mas tudo em mim queria.

Ali, sentado de costas pra porta, ele não pareceu notar minha presença. Cantava baixinho, alguma melodia que eu não reconheci, batendo uma caneta no papel como quem marca um ritmo. A nuca dele, os ombros largos e um braço coberto por tatuagens e uma camiseta regata, branca e simples demais pro tamanho do meu surto.

Eu reconheceria aquele homem em qualquer vida. Em qualquer linha do tempo. Em qualquer galáxia.

Era ele.

Era o Jungkook.

Minhas pernas ficaram moles. Eu não sabia se chorava, se ria, se desmaiava. Meu coração socava o peito com tanta força que eu tinha certeza que dava pra ouvir. Eu apertei os olhos, mordi o lábio com força.

“Calma. CALMA. Pelo amor de Deus, calma.”

Comecei a suar. A suar mesmo, nas costas, atrás do joelho, na nuca. O corpo inteiro pulsava. Um formigamento tomou conta das minhas mãos. Eu tinha medo de desmaiar ali, juro por tudo.

A voz dele preenchia a sala, suave, despretensiosa, como se ele estivesse no quarto dele, sozinho, ensaiando ideias.

Eu estava ali, paradinha, imóvel, quase sem respirar. Poderia passar uma eternidade naquele silêncio, só observando ele de costas, cantarolando baixinho, batucando com a caneta sobre o papel.

Mas então… ele parou.

Escreveu alguma coisa, inclinou levemente a cabeça — e em câmera lenta, virou-se. Me viu.

E foi ali que o mundo saiu do eixo.

Os olhos dele me encontraram com uma calma absurda, como se já soubessem quem eu era. Olhos escuros, curiosos, jabuticabas doces me despindo por dentro. Meu olhar foi direto pro piercing em seu lábio — aquele brilho metálico que tantas vezes eu imaginei sentindo roçar na minha boca. Meu coração travou. Um sorriso nasceu, lento, nos lábios dele. Gentil… e com um toque safado que me desmontou inteira.

Ele falou comigo num inglês arrastado.

— Oi… tudo bem? Você está muito ocupada agora? Será que pode me ajudar com uma coisa?

A voz dele era suave, com um sotaque fofo, e um cheiro floral, levemente frutado, escapava dele como uma onda morna e deliciosa.

Meu. Deus. Ele estava falando. Comigo.

Peguei o celular, tremendo, rezei pra bateria não ter morrido e abri a câmera — pronta pra pedir uma foto, pra registrar aquilo que claramente não era real.

Mas o que ele fez depois me quebrou.

— Claro… em que posso ajudar o senhor? — minha boca respondeu antes do cérebro.

Ele sorriu de novo, e puxou a cadeira ao lado dele, apontando com um gesto gentil.

— Pode se sentar aqui um pouquinho? Se não for um incômodo muito grande, claro.

Meu corpo se moveu sozinho, como se não fosse meu. Me sentei ao seu lado, em estado de choque. Minhas mãos suavam, minha garganta travada, meu olhar fixo nos olhos dele… e nos lábios. E aquele cheiro… meu Deus, aquele cheiro parecia me acariciar por dentro, me fazer suar por baixo da roupa, me deixar molhada só de existir perto dele.

Eu podia dizer qualquer coisa. Mas minha boca me traiu.

— Que perfume bom… qual você tá usando?

Como se eu não soubesse. Como se eu não tivesse feito uma lista mental dos perfumes que esse homem já usou na vida toda. Como se eu não fosse declaradamente apaixonada por ele.

Ele riu baixinho, inclinou o rosto e cheirou o próprio pulso.

— Ah, esse aqui? É de frutas daqui do Brasil. Omnia Paraiba, da Bvlgari. Eu adoro ele. É tão gostoso. Sente.

E estendeu o braço na minha direção.

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