O perfume, o toque, o olhar. Tudo começou com um cheiro. Mas o que ela encontrou foi bem mais intenso.
Capítulo 3
Devagar, como se estivesse em transe, me inclinei. Fechei os olhos. E quando a ponta do meu nariz — e meus lábios — encostaram de leve na pele dele, um arrepio me atravessou inteira. Meu corpo se eriçou como se o ar ao redor tivesse mudado de temperatura. Meu coração explodiu num silêncio histérico, abafado, e entre minhas pernas, algo começou a pulsar num ritmo que só ele poderia acalmar.
Era só um cheiro. Só um toque. Só ele.
— Nossa… — pensei em tanta coisa pra responder, mas qualquer uma delas me faria ser presa por assédio em dois tempos — É uma delícia mesmo!
Ele riu, um pouco sem jeito, e recuou o braço com delicadeza, como quem não queria me constranger. Mas ficou me olhando, rindo, meio bobo. Se eu não conhecesse aquele jeitinho dele — meio sedutor, meio encantador de propósito — eu até diria que estava apaixonado por mim.
— Eu tô tentando finalizar uma música — ele disse, olhando pro papel à sua frente. — Queria fazer algo especial pras fãs aqui do Brasil, que a gente gosta muito. Você pode escutar e me dar sua opinião? De repente… — ele fez uma pausa, e o olhar brilhou — uma ideia?
Eu só consegui balançar a cabeça, dizendo que sim, com a garganta seca e a alma derretida.
E então ele começou. Cantarolava algo baixinho, quase como um segredo, enquanto dançava levemente sentado, fazendo suas caras e bocas como se estivesse no palco — mas era só pra mim. Só pra mim. Eu quase não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Jungkook estava ali, num escritório qualquer de estádio, cantando pra mim. Pra mim.
Levei as duas mãos à boca, tentando segurar o riso, o grito, o choro. Se ele me pedisse qualquer coisa ali, eu daria.
No fim da pequena apresentação improvisada, ele sorriu de novo e perguntou:
— E então, gostou? Pode me dar uma opinião?
— Nossa… ficou lindo. Eu quase chorei!
Ele deu uma risadinha, claramente se divertindo com o meu estado.
Ele sabia o efeito que causava. Milhões de fãs no mundo inteiro. Mas, por um instante, eu juro que vi nos olhos dele: naquele momento, só eu existia.
— Se você gostou — ele disse, ajeitando os papéis — então eu sei que está bom. Vocês são muito especiais.
Eu sabia que aquela frase dizia mais nas entrelinhas do que parecia. Era a deixa. A hora de eu ir embora. Eu não podia ficar ali, atrapalhando ele — ele estava trabalhando, afinal. Meu corpo fez menção de se levantar, mas ele percebeu rápido e tocou meu braço desnudo com a mão.
Ele tocou a minha pele.
— Você precisa mesmo ir agora? — a voz saiu suave, mas havia nela um quê de urgência, um interesse real. — Se quiser, eu ligo pra produção e digo que você tá me ajudando pessoalmente com uma coisa.
Eu ri, me sentindo uma VIP de novela. E por dentro, gritando mentalmente: “Caralho, me beija, me come, eu faço o que você quiser…”
— Claro que posso… tô aqui pra isso — respondi, tentando soar solícita. Mas a real? Eu não fazia ideia do que dizer. Minha cabeça era um furacão de perguntas, fantasias, planos de conversa que agora evaporavam. E eu ali, travada, muda, feito uma múmia diante da beleza dele.
Ele sorriu de leve, com aquele jeitinho doce, quase tímido:
— Eu gosto de conversar com pessoas. Com tanta correria, às vezes é difícil parar… só pra falar de coisas simples, sabe?
— Verdade… vocês trabalham demais. Como conseguem?
Ele não respondeu de imediato. Suspirou, pensativo, e deu de ombros. Um gesto pequeno, mas que me deu um aperto no peito.
E aí, mesmo sabendo que podia ser invasivo, deixei escapar antes de pensar:
— Desculpa perguntar… mas você não tem uma namorada mesmo?
Ele riu, tranquilo, como quem já ouviu aquilo mil vezes.
— Não… a gente fez uma escolha.
Mordi o lábio, os braços cruzados pra segurar a ousadia que subia por mim como febre. E falei:
— Eu sei a resposta padrão… mas não acredito muito nela.
Ele me olhou com um brilho malicioso. Um desafio silencioso.
— Com tanto trabalho… como a gente poderia fazer alguém feliz de verdade? A gente escolheu se dedicar inteiramente a vocês.
E piscou. Uma piscadela certeira que se alojou direto no meio das minhas pernas. Aquela imagem ia viver na minha cabeça em um triplex.
Enquanto ele falava, notei os olhos dele descerem pro meu celular. E meu coração disparou. Vi que a câmera ainda tava aberta. Merda. E se ele achasse que eu tava gravando? E se ele se irritasse? “Agora fudeu, ele vai me mandar embora, que idiota eu fui…”
Mas ele só apontou com um sorrisinho, quase divertido:
— Você quer tirar uma foto?
— Sério? Posso mesmo? Não tem problema?
— Problema nenhum. Por que teria?
E aí ele se esticou, pegou o celular da minha mão com naturalidade e ficou encarando a tela, tentando decifrar o português.
— Tá em português, mas acho que dá pra entender… vem cá!
Ele me puxou pra perto como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se a gente já tivesse intimidade de anos. Como se fôssemos amigos… ou amantes. Passou o braço pelos meus ombros com tanta leveza que minha pele ardeu no contato. O calor do corpo dele encostado no meu fez meu corpo inteiro estremecer. Eu estava ali, colada nele. A respiração dele tão perto que poderia tocar a minha.
E dentro de mim, uma voz gritava em looping: “isso tá mesmo acontecendo.”
Tiramos um monte de fotos. Abraçados, de rostinho colado, rindo feito dois adolescentes. Fizemos coraçãozinho com as mãos, caretas, poses bobas. Ele parecia absolutamente à vontade, como se eu não fosse uma completa desconhecida, como se fosse natural estar ali com ele, dividindo aquele momento.
E quando terminamos, ficamos juntinhos olhando as fotos, um do lado do outro, os ombros ainda encostados. Rindo. Comentando. Ele pegava o celular e me obrigava a apagar várias, dizendo que tinha saído feio — como se isso fosse possível! — e não reclamava nem por um segundo de tirar mais. Pelo contrário… parecia gostar de prolongar aquele momento. Como se, de alguma forma, ele também não quisesse que aquilo acabasse.
Depois disso, a conversa deslizou por alguns minutos. Falamos sobre o que ele estava achando do Brasil. Ele só reclamou de uma coisa — o calor. Disse que sentia que ia derreter a qualquer momento. Mas logo emendou dizendo que achava tudo incrível, que o país era cheio de energia, que a gente era um povo muito animado… e que ele adorava isso.
A conversa não era exatamente fácil. O inglês dele era um pouco arrastado, ele esquecia palavras, trocava outras. Mas eu ajudava, corrigia com paciência, achando graça, sem a menor pressa de sair dali.
Até que, num momento de coragem impulsiva — e cheia de segundas intenções — eu disparei:
— Mas me conta… você já beijou alguma menina aqui do Brasil?
Não era só curiosidade, claro. Eu estava dando na cara. Dando mole com neon piscando. Quase entregando um me beija agora disfarçado de pergunta inocente.
Ele soltou aquele risinho safado, com a pontinha da língua passando no piercing em seus lábios, como quem finge timidez. Me olhou de baixo pra cima, com aquele olhar torto que bagunça qualquer juízo.
— Eu… beijarei.
— Mocinho… — eu sorri, provocando — acho que você conjugou o verbo errado. O verbo é no pretérito. Eu beijei.
Ele me encarou com um ar quase sério, e por um segundo eu achei que ele não tivesse gostado da correção. Mas então, ele sorriu, daquele jeito doce que engana.
— Não… eu falei certo.
— Eu beijarei.
Minha barriga afundou.
— Você vai beijar? — perguntei, já meio sem ar. — Nossa… agora eu fiquei curiosa. Quem?
Ele se inclinou um pouco, o olhar cravado no meu, e disse num tom firme, calmo, quase sussurrado:
— Você.