Capítulo 11
Depois daquilo, o ritmo entre mim e Amanda diminuiu. Mas a gente ficou a tarde toda juntas, aos beijos. Sempre que esquentava demais, eu recuava. Não que ela não tivesse tentado ir além — tentou sim, dava pra ver — mas eu não achava legal, não sabia o que fazer, não tinha ideia de como conduzir. Ainda assim, posso dizer: estava gostoso demais. O beijo dela era viciante, e aquele “quase” constante só me deixava mais elétrica.
Quando deu o meu horário, me levantei e fui embora. Me despedi dela com um sorriso bobo no rosto, meio sem acreditar que aquilo tinha acontecido.
À noite, já em casa, o celular não tocou. Eu queria mandar uma mensagem pra ele, mas estava morrendo de vergonha. Não sabia o que dizer. E eu boba, ainda acreditava nessa coisa de “rosas no dia seguinte”, achava que ele quem tinha que vir falar comigo, perguntar se eu tava bem, mandar um “pensei em você”.
Mas o mundo é cruel.
Na hora do jantar, sentei à mesa com meus pais. Comida servida, silêncio de rotina, até que eu soltei:
— Mãe, cadê a Catarina? — perguntei, tentando soar casual.
— Saiu com aquele namoradinho dela… — respondeu minha mãe, cortando a carne.
— Ele não é namoradinho dela, ela não vai gostar de você falando assim. — meu pai corrigiu, sem levantar os olhos do prato.
Meu garfo caiu do lado do prato. O coração deu um pulo.
— Quem é esse? — perguntei, quase sem voz.
— Jonas. — meu pai respondeu, simples. — Acho que é Jonas o nome dele. Aquele que tava aqui outro dia…
O mundo parou. Era ele. Jonas. O cara que tinha tirado minha virgindade naquela manhã. O mesmo que, naquele exato momento, estava na rua com a minha irmã.
Meu estômago revirou.
Minha mãe me olhou, e eu pensei na hora: fudeu_._ Ela sempre sacava tudo, nos mínimos detalhes, como se lesse meus pensamentos. Eu só queria ver qual seria o papo assim que meu pai levantasse da mesa e colocasse o prato na pia.
Fiquei quieta a janta inteira, fingindo concentração no prato, enquanto os dois conversavam sobre uma casa que estavam pensando em comprar. Cada palavra deles parecia distante, abafada pelo zunido dentro da minha cabeça.
Quando o jantar terminou, meu pai se levantou, carregou o prato até a pia e saiu da cozinha. Bastou a porta bater pra minha mãe atirar, sem dó:
— Agora me explica essa cara, dona Érica!
Quase engasguei.
— Tô com cara de nada… — murmurei, sem coragem de encarar.
— Você tá gostando do menino? — ela foi direto ao ponto.
— Que menino? — tentei me fazer de desentendida.
— Do Jonas. O bonitinho.
Senti o coração bater no pescoço. Respirei fundo e soltei rápido:
— Não, mãe. Ele é meu duo de LoL.
— Duo de quê? — ela franziu a testa.
— De LoL. — repeti, mais baixo.
— E o que é isso?
— Um jogo, mãe. Ele é meu par no jogo… — expliquei rápido, enrolando.
Ela apoiou o queixo na mão, me olhando com aquela cara de quem não engole desculpa fácil.
— Tá… mas você tá gostando dele?
— Não, mãe! Não inventa… — retruquei, tentando soar firme.
— Então por que essa cara de quem comeu coisa azeda?
— Tô com cara nenhuma… — insisti, desviando o olhar.
Ela suspirou fundo, séria:
— Filha, eu acho que ele tá namorando sua irmã. E eu não quero ver vocês duas brigando por causa de garoto. Além do mais, ele é muito velho pra você, tá?
Aquela frase me atravessou inteira. Mas eu não podia deixar escapar nada. Forçando um riso nervoso, respondi:
— Tá… mas eu não quero ele não, mãe. É velho. — menti descaradamente.
Por dentro, eu ardia de raiva e vergonha.
Vocês acham que eu fui pro quarto chorar, né? Pois não. Eu não chorei. Eu não era dessas. Eu fiquei decepcionada com ele, claro, mas não tinha sentimento forte o bastante pra me derrubar. Jonas não era um amor da minha vida, era só o cara que eu quis pra minha primeira vez. Achei que ia ser uma boa ideia — e até foi. Mas, sendo sincera, ele foi meio… fraco. Não deixou saudade.
O dia tinha sido um turbilhão. Entre o Jonas, a Amanda, e a descoberta no jantar, eu estava esgotada. Tomei um banho demorado, esfreguei o corpo todo até sentir a pele quente, como se quisesse apagar os rastros dele. Depois troquei de roupa, pronta pra deitar.
E então caiu a ficha.
— Puta merda… esqueci a calcinha da minha irmã na Amanda. — falei em voz alta, encarando o teto.
Um frio me percorreu. “Minha irmã vai dar falta_._ Caceta.”
Mas logo relaxei. Tranquilo. Era só garantir que aquela calcinha nunca voltasse pra casa. Qualquer coisa, se ela estranhasse, ia achar que tinha voado do varal, sumido na lavanderia, ou sei lá.
No fundo, eu sabia: a calcinha era o menor dos meus problemas.
Minha irmã voltou tarde da noite. Escutei quando entrou, batendo a porta de leve, passos arrastados. Ela foi direto pra cozinha, e só pelo barulho já dava pra sacar: estava alterada. Aquele jeito mole de quem bebeu, fumou, riu demais e agora revirava os armários atrás de qualquer coisa pra matar a larica.
Hora perfeita pra sondar.
Fui até lá, me encostei na bancada e soltei:
— E aí… onde tu tava?
Ela meteu a mão no pacote de biscoito, já mastigando de boca cheia:
— Tava numa baladinha…
— Mentira. Tava nada… — retruquei, estreitando os olhos.
Ela riu, aquele riso solto demais, com a voz arrastada:
— Tá querendo saber demais, guria.
— Tu tá passando o trator naquele menino, né? Ele é bonitinho, né? — provoquei, só pra ver a reação.
— Tu para de tacar pedra nas minhas pombas, dona Kika! — falou rindo alto, quase engasgando.
— Ei… só tô comentando. Tu tá pegando ele?
Ela riu safada, meio vermelha, mordendo o biscoito como se fosse segurar a resposta, mas já tinha entregado no olhar:
— Mais que isso, um pouco…
Meu coração disparou, mas fingi descaso.
— Sério? Tu deu pra ele?
Catarina me encarou por um segundo, a pupila dilatada, rindo sem freio. E soltou sem pensar:
— Dei, claro! Tu acha o quê? Aquele gostosooooooo!
Quase tropecei no chão. Mas ela não parou, língua solta de tanto álcool e maconha:
— Ó… vou te dizer, ele é bom, mas é fraquinho, tá?
— Como assim fraquinho? — perguntei, fingindo inocência.
— Ah, Kika, não vou te explicar isso não… — ela riu, balançando a cabeça, mordendo mais um biscoito.
— Fala, cacete. Tô curiosa.
Ela me olhou de lado, semicerrando os olhos, e deixou escapar:
— Ah… irmã, borracha fraca. Não dá conta.
Sem pensar, soltei:
— É, concordo.
O silêncio caiu por dois segundos, e eu percebi a merda que tinha falado, era para ser só um pensamento.
— Como assim concorda? — ela me encarou, confusa.
— Esquece… só pensei alto. Eu sou retardada, Cat. Esquece. — me enrolei, tentando cortar o assunto.
— Eu, hein… esquisita. — disse ela, dando de ombros e voltando ao pacote. — Mas foi legal. Ele disse que tava cansado, mas a gente deu uns pegas. Só que não durou naaaaaaada. Primeira sentada, ele piou.
Ela gargalhou, e eu ri junto, mas por dentro o estômago embrulhava. “Comigo foi igualzinho. Todo inesquecível antes, cheio de atitude, mas na hora de meter não segurou dez minutos_.”_ Como eu queria dizer isso pra ela, rir junto de verdade. Mas se eu contasse, ela ia surtar. Ia contar pra minha mãe que eu dei, e pronto, eu tava morta.
A gente era meio cúmplice, mas se ele já era namorado dela… aí não tinha como. Melhor ficar quieta. Ele que arque com a fama de safado, uma hora a máscara cai.
— Irmã… mas esse menino presta? — perguntei, forçando a voz de desdém.
Ela riu com desprezo, jogando o pacote na mesa.
— Presta nada. Safado demais. Eu até gosto dele, mas não dá pra confiar.
E nesse ponto eu sabia: ela estava certa.
— Se quiser me emprestar, eu aceito, irmã. Você nunca me deu nada… — falei, provocando.
— Piranhazinha! — ela respondeu na hora, rindo, me agarrando pelo pescoço e me dando um beijo estalado na bochecha, fedendo a álcool.
— Quando você der essa tabaquinha aí… — ela cutucou, rindo mais ainda, e começou a me esbofetear de leve bem no meio da boceta, por cima do short.
— Para, porra! — protestei, tentando segurar a mão dela, mas rindo também.
— …a gente conversa. — completou, com aquele olhar malicioso.
Foi aí que eu soltei a bomba, sem pensar:
— E quem falou que eu já não dei?
— Kiiiiiikaaaa!!!!! — ela arregalou os olhos, a risada parou.
“Fudeu. Falei merda. Agora vinha sermão”.
— Você já deu, Kika? — ela se aproximou, o rosto sério agora, e olhou rápido pra porta, vigiando se minha mãe vinha.
— Não, né? Mas tô querendo… — menti, tentando aliviar. — Os garotos são tudo tapado.
Ela suspirou, apontando o dedo na minha cara:
— Tu bota camisinha, hein garota. Não confia em homem, não.
— Tá, eu sei… — respondi automático.
— Sabe porra nenhuma. — retrucou.
— Sei sim. — insisti, cruzando os braços.
— Tu nem tem namorado, garota. Vai dar pra quem? — perguntou, arqueando a sobrancelha.
Eu dei risada, soltei a provocação final:
— Pro seu. Me empresta. Ele é gostoso e você disse que não vale nada. — falei, rindo debochada.
Ela ficou me encarando, meio rindo, meio chocada, sem saber se me xingava ou se ria junto.
— Tá vou pensar no seu caso…
Falou isso e virou as costas indo pro banheiro, e eu fui dormir.Depois daquilo, o ritmo entre mim e Amanda diminuiu. Mas a gente ficou a tarde toda juntas, aos beijos. Sempre que esquentava demais, eu recuava. Não que ela não tivesse tentado ir além — tentou sim, dava pra ver — mas eu não achava legal, não sabia o que fazer, não tinha ideia de como conduzir. Ainda assim, posso dizer: estava gostoso demais. O beijo dela era viciante, e aquele “quase” constante só me deixava mais elétrica.
Quando deu o meu horário, me levantei e fui embora. Me despedi dela com um sorriso bobo no rosto, meio sem acreditar que aquilo tinha acontecido.
À noite, já em casa, o celular não tocou. Eu queria mandar uma mensagem pra ele, mas estava morrendo de vergonha. Não sabia o que dizer. E eu boba, ainda acreditava nessa coisa de “rosas no dia seguinte”, achava que ele quem tinha que vir falar comigo, perguntar se eu tava bem, mandar um “pensei em você”.
Mas o mundo é cruel.
Na hora do jantar, sentei à mesa com meus pais. Comida servida, silêncio de rotina, até que eu soltei:
— Mãe, cadê a Catarina? — perguntei, tentando soar casual.
— Saiu com aquele namoradinho dela… — respondeu minha mãe, cortando a carne.
— Ele não é namoradinho dela, ela não vai gostar de você falando assim. — meu pai corrigiu, sem levantar os olhos do prato.
Meu garfo caiu do lado do prato. O coração deu um pulo.
— Quem é esse? — perguntei, quase sem voz.
— Jonas. — meu pai respondeu, simples. — Acho que é Jonas o nome dele. Aquele que tava aqui outro dia…
O mundo parou. Era ele. Jonas. O cara que tinha tirado minha virgindade naquela manhã. O mesmo que, naquele exato momento, estava na rua com a minha irmã.
Meu estômago revirou.
Minha mãe me olhou, e eu pensei na hora: fudeu_._ Ela sempre sacava tudo, nos mínimos detalhes, como se lesse meus pensamentos. Eu só queria ver qual seria o papo assim que meu pai levantasse da mesa e colocasse o prato na pia.
Fiquei quieta a janta inteira, fingindo concentração no prato, enquanto os dois conversavam sobre uma casa que estavam pensando em comprar. Cada palavra deles parecia distante, abafada pelo zunido dentro da minha cabeça.
Quando o jantar terminou, meu pai se levantou, carregou o prato até a pia e saiu da cozinha. Bastou a porta bater pra minha mãe atirar, sem dó:
— Agora me explica essa cara, dona Érica!
Quase engasguei.
— Tô com cara de nada… — murmurei, sem coragem de encarar.
— Você tá gostando do menino? — ela foi direto ao ponto.
— Que menino? — tentei me fazer de desentendida.
— Do Jonas. O bonitinho.
Senti o coração bater no pescoço. Respirei fundo e soltei rápido:
— Não, mãe. Ele é meu duo de LoL.
— Duo de quê? — ela franziu a testa.
— De LoL. — repeti, mais baixo.
— E o que é isso?
— Um jogo, mãe. Ele é meu par no jogo… — expliquei rápido, enrolando.
Ela apoiou o queixo na mão, me olhando com aquela cara de quem não engole desculpa fácil.
— Tá… mas você tá gostando dele?
— Não, mãe! Não inventa… — retruquei, tentando soar firme.
— Então por que essa cara de quem comeu coisa azeda?
— Tô com cara nenhuma… — insisti, desviando o olhar.
Ela suspirou fundo, séria:
— Filha, eu acho que ele tá namorando sua irmã. E eu não quero ver vocês duas brigando por causa de garoto. Além do mais, ele é muito velho pra você, tá?
Aquela frase me atravessou inteira. Mas eu não podia deixar escapar nada. Forçando um riso nervoso, respondi:
— Tá… mas eu não quero ele não, mãe. É velho. — menti descaradamente.
Por dentro, eu ardia de raiva e vergonha.
Vocês acham que eu fui pro quarto chorar, né? Pois não. Eu não chorei. Eu não era dessas. Eu fiquei decepcionada com ele, claro, mas não tinha sentimento forte o bastante pra me derrubar. Jonas não era um amor da minha vida, era só o cara que eu quis pra minha primeira vez. Achei que ia ser uma boa ideia — e até foi. Mas, sendo sincera, ele foi meio… fraco. Não deixou saudade.
O dia tinha sido um turbilhão. Entre o Jonas, a Amanda, e a descoberta no jantar, eu estava esgotada. Tomei um banho demorado, esfreguei o corpo todo até sentir a pele quente, como se quisesse apagar os rastros dele. Depois troquei de roupa, pronta pra deitar.
E então caiu a ficha.
— Puta merda… esqueci a calcinha da minha irmã na Amanda. — falei em voz alta, encarando o teto.
Um frio me percorreu. “Minha irmã vai dar falta_._ Caceta.”
Mas logo relaxei. Tranquilo. Era só garantir que aquela calcinha nunca voltasse pra casa. Qualquer coisa, se ela estranhasse, ia achar que tinha voado do varal, sumido na lavanderia, ou sei lá.
No fundo, eu sabia: a calcinha era o menor dos meus problemas.
Minha irmã voltou tarde da noite. Escutei quando entrou, batendo a porta de leve, passos arrastados. Ela foi direto pra cozinha, e só pelo barulho já dava pra sacar: estava alterada. Aquele jeito mole de quem bebeu, fumou, riu demais e agora revirava os armários atrás de qualquer coisa pra matar a larica.
Hora perfeita pra sondar.
Fui até lá, me encostei na bancada e soltei:
— E aí… onde tu tava?
Ela meteu a mão no pacote de biscoito, já mastigando de boca cheia:
— Tava numa baladinha…
— Mentira. Tava nada… — retruquei, estreitando os olhos.
Ela riu, aquele riso solto demais, com a voz arrastada:
— Tá querendo saber demais, guria.
— Tu tá passando o trator naquele menino, né? Ele é bonitinho, né? — provoquei, só pra ver a reação.
— Tu para de tacar pedra nas minhas pombas, dona Kika! — falou rindo alto, quase engasgando.
— Ei… só tô comentando. Tu tá pegando ele?
Ela riu safada, meio vermelha, mordendo o biscoito como se fosse segurar a resposta, mas já tinha entregado no olhar:
— Mais que isso, um pouco…
Meu coração disparou, mas fingi descaso.
— Sério? Tu deu pra ele?
Catarina me encarou por um segundo, a pupila dilatada, rindo sem freio. E soltou sem pensar:
— Dei, claro! Tu acha o quê? Aquele gostosooooooo!
Quase tropecei no chão. Mas ela não parou, língua solta de tanto álcool e maconha:
— Ó… vou te dizer, ele é bom, mas é fraquinho, tá?
— Como assim fraquinho? — perguntei, fingindo inocência.
— Ah, Kika, não vou te explicar isso não… — ela riu, balançando a cabeça, mordendo mais um biscoito.
— Fala, cacete. Tô curiosa.
Ela me olhou de lado, semicerrando os olhos, e deixou escapar:
— Ah… irmã, borracha fraca. Não dá conta.
Sem pensar, soltei:
— É, concordo.
O silêncio caiu por dois segundos, e eu percebi a merda que tinha falado, era para ser só um pensamento.
— Como assim concorda? — ela me encarou, confusa.
— Esquece… só pensei alto. Eu sou retardada, Cat. Esquece. — me enrolei, tentando cortar o assunto.
— Eu, hein… esquisita. — disse ela, dando de ombros e voltando ao pacote. — Mas foi legal. Ele disse que tava cansado, mas a gente deu uns pegas. Só que não durou naaaaaaada. Primeira sentada, ele piou.
Ela gargalhou, e eu ri junto, mas por dentro o estômago embrulhava. “Comigo foi igualzinho. Todo inesquecível antes, cheio de atitude, mas na hora de meter não segurou dez minutos_.”_ Como eu queria dizer isso pra ela, rir junto de verdade. Mas se eu contasse, ela ia surtar. Ia contar pra minha mãe que eu dei, e pronto, eu tava morta.
A gente era meio cúmplice, mas se ele já era namorado dela… aí não tinha como. Melhor ficar quieta. Ele que arque com a fama de safado, uma hora a máscara cai.
— Irmã… mas esse menino presta? — perguntei, forçando a voz de desdém.
Ela riu com desprezo, jogando o pacote na mesa.
— Presta nada. Safado demais. Eu até gosto dele, mas não dá pra confiar.
E nesse ponto eu sabia: ela estava certa.
— Se quiser me emprestar, eu aceito, irmã. Você nunca me deu nada… — falei, provocando.
— Piranhazinha! — ela respondeu na hora, rindo, me agarrando pelo pescoço e me dando um beijo estalado na bochecha, fedendo a álcool.
— Quando você der essa tabaquinha aí… — ela cutucou, rindo mais ainda, e começou a me esbofetear de leve bem no meio da boceta, por cima do short.
— Para, porra! — protestei, tentando segurar a mão dela, mas rindo também.
— …a gente conversa. — completou, com aquele olhar malicioso.
Foi aí que eu soltei a bomba, sem pensar:
— E quem falou que eu já não dei?
— Kiiiiiikaaaa!!!!! — ela arregalou os olhos, a risada parou.
“Fudeu. Falei merda. Agora vinha sermão”.
— Você já deu, Kika? — ela se aproximou, o rosto sério agora, e olhou rápido pra porta, vigiando se minha mãe vinha.
— Não, né? Mas tô querendo… — menti, tentando aliviar. — Os garotos são tudo tapado.
Ela suspirou, apontando o dedo na minha cara:
— Tu bota camisinha, hein garota. Não confia em homem, não.
— Tá, eu sei… — respondi automático.
— Sabe porra nenhuma. — retrucou.
— Sei sim. — insisti, cruzando os braços.
— Tu nem tem namorado, garota. Vai dar pra quem? — perguntou, arqueando a sobrancelha.
Eu dei risada, soltei a provocação final:
— Pro seu. Me empresta. Ele é gostoso e você disse que não vale nada. — falei, rindo debochada.
Ela ficou me encarando, meio rindo, meio chocada, sem saber se me xingava ou se ria junto.
— Tá vou pensar no seu caso…
Falou isso e virou as costas indo pro banheiro, e eu fui dormir.

