Capítulo 16
O toque dela não deixava margem para dúvida. A polpa macia de um dedo pressionava exatamente a entrada da minha vagina, girando devagar, num círculo preguiçoso que espalhava a umidade que eu não queria produzir. Eu sentia o líquido escorrendo, traiçoeiro, e ela o usava como tinta, espalhando ao redor dos lábios, marcando território na minha própria carne. Apertei os dentes. Meu corpo, essa máquina burra, reagia quando apertavam os botões certos: a respiração pesou, os mamilos endureceram, o ventre se contraiu sozinho. Tive que morder o lábio por dentro para não deixar escapar nenhum gemido. Ela sabia. Claro que sabia. Estava ali esperando o exato momento em que minha vontade racharia, em que o corpo me traísse e entregasse a vontade que eu ainda tentava agarrar com unhas e dentes.
O dedo apertou mais fundo, quase me violando, e eu lutei para não fechar as coxas, para não me contrair e mostrar o prazer que, contra tudo, começava a brotar. Senti que escorria mais, devagar, vergonhosamente, e a pele inteira se arrepiou como se eu tivesse febre. “Não, por favor, não agora”, implorei dentro da cabeça, mas o corpo não obedecia mais a mim — obedecia a ela.
Então o dedo entrou de uma vez. O ar me faltou. Doeu, um ardor seco que afastou as paredes como se tivesse areia ali dentro, rasgando o que já estava tenso e despreparado. Ela forçou um movimento bruto, como quem quer descolar algo colado, e minha vagina reclamou alto — uma pontada que subiu até o estômago. Atrás de mim, ouvi o riso dela, baixo, satisfeito.
— Odeio quando fazem isso comigo — disse ela, retirando os dedos de repente. Prendi a respiração inteira, os músculos travados, para não me contrair e não revelar o vazio que ficou latejando. — Os homens sempre fazem isso, Luana.
Não respondi. Não era pergunta.
O colchão afundou quando ela se moveu. Cada deslocamento do peso dela me obrigava a ajustar os joelhos para não tombar, vendada, de quatro, ridícula. A voz dela mudou de lugar, agora mais perto do meu ouvido, lenta, arrastada, destilando veneno puro:
— Sabe o que eu tô pensando aqui?
Silêncio. Só minha respiração curta, quase um chiada.
— Se eu continuar com isso… você vai gostar. Seu corpinho vai ficar louco de tesão e você vai querer me comer desesperada, não é, Luana?
Engoli o nojo, engoli a raiva, engoli tudo.
— Se a senhora assim desejar — respondi, rouca, obediente, exatamente como o figurino mandava.
Ela deu uma risadinha molhada, de quem já ganhou a partida antes do fim.
— Não, não… eu tenho uma ideia muito melhor.
O colchão rangeu mais uma vez, um som baixo e preguiçoso que pareceu durar uma eternidade. Depois veio o silêncio — um silêncio pesado, viscoso, que grudou na pele. O ar mudou de temperatura bem na minha frente: de repente, um calor úmido, vivo, bateu direto no meu rosto. Ela estava ali, se ajeitando de frente para mim, tão perto que eu sentia o hálito dela roçando minha testa.
Mas não foi só o calor que me denunciou. Foi o cheiro. Aquele cheiro inconfundível, forte, animalesco, o cheiro de buceta excitada, de fêmea no cio. Um cheiro que eu conhecia desde sempre, porque era o meu também, mas que agora vinha de outra mulher e me invadia as narinas como uma agressão. Meu coração deu um salto, apertou, disparou. Mordi a língua com força, tentando expulsar o pânico que subia pela garganta, tentando não respirar fundo, tentando não pensar: “Isso não, por favor, qualquer coisa menos isso”.
— Eu vou tirar a venda, meu amor — sussurrou ela, a voz melíflua, carregada de um tesão que escorria como mel envenenado. — Quero que você me veja. Em nenhum momento tire os olhos de mim.
Os dedos dela desfizeram o nó da minha própria blusa com uma lentidão cruel. A luz amarelada do quarto invadiu meus olhos de repente, e quando a visão se ajustou… gelei.
Ela estava deitada de frente para mim, as costas afundadas no colchão, as pernas dobradas e escancaradas de um jeito quase impossível — joelhos quase na altura dos ombros, tudo aberto, tudo exposto. Era uma posição tão vulgar, tão escrachada, que nem os filmes mais safados ousam colocar a atriz assim por muito tempo. Meu olhar, obediente, preso ao chão até então, foi forçado a subir… e caiu direto na buceta dela.
Rosa, inchada, brilhando de tão molhada. Os grandes lábios colados, os pequenos entreabertos e embolados, o clitóris já saltado do capuz, latejando. O cheiro ficou mais forte, mais doce, mais nojento. “Não, não, por favor isso não…”, implorei dentro da cabeça, sentindo o estômago revirar, o rosto queimar, os olhos ardendo como se eu estivesse olhando para o sol.
Ela se remexeu devagar, abrindo mais ainda, como quem exibe um troféu.
— Mama a mamãe, Luana… — a voz saiu rouca, carregada de tesão puro, quase um gemido. — Mama… vai… mama aqui pra mim… Mas, mama me olhando vadia
O pensamento veio como um soco: “Levanta e vai embora agora, Luana, corre dessa merda.” Mas meus joelhos até tremeram, prontos para me erguer. Mas… pra onde? Eu já estava ali, de quatro, vendada até segundos atrás, molhada de vergonha e de excitação que eu odiava admitir. Aquilo era o mundo que eu mesma tinha escolhido quando mandei aquela mensagem. Quando assinei aqueles papéis. Quando aceitei o dinheiro. Eu não ia morrer se fizesse aquilo. E, pior: quem nunca, nem que por um segundo, sentiu curiosidade sobre o gosto de outra mulher estaria mentindo pra si mesma. Respirei fundo, o ar pesado de sexo entrando pelo nariz, e deixei a cabeça pender um pouco mais.
— Isso, garota… vem… — a voz dela era um fio de mel quente escorrendo na minha nuca.
Engatinhei um passo à frente, o colchão afundando sob meus joelhos. Meu rosto ficou a centímetros daquela buceta aberta, latejando em tons de rosa. O cheiro era insuportável — doce, salgado, vivo. Fechei os olhos por instinto, mas ela foi mais rápida.
— Olhos abertos, Luana. Sempre em mim. Se você fechar ou desviar o olhar, eu paro tudo e você vai conhecer o que é punição de verdade. Quero ver sua carinha enquanto me chupa, meu bem. E você vai me fazer gozar. Se não gozar, vai doer. Entendeu?
— Sim, minha senhora — sussurrei, a voz tremendo.
Abri os olhos. Encarei direto aquele sexo rosado, inchado, escorrendo. Meu coração batia tão alto que eu jurava que ela ouvia. Aproximei a boca devagar, como quem vai tocar fogo com a ponta da língua. Primeiro só encostei os lábios, um beijo tímido, sentindo o calor e a umidade grudar na minha pele. Ela soltou um gemido baixo, satisfeito.
— Língua, Luana. Usa a língua como se fosse a sua própria buceta. Como você gosta que façam com você.
Fechei os olhos por um milésimo de segundo — erro. Ela agarrou meu cabelo com força.
— OLHOS ABERTOS.
Abri de novo, lacrimejando. Enfiei a língua, desajeitada, lambendo de baixo pra cima, sentindo o gosto salgado-explícito invadir minha boca inteira. Era quente, viscoso, vivo. Fiz como imaginava que devia ser: lambidas largas, lentas, subindo até o clitóris, circundando, depois voltando pra baixo, chupando os lábios, voltando pro clitóris. Ela gemia alto agora, as coxas tremendo, os dedos apertando meu cabelo como rédeas.
— Isso… assim… não para de me olhar…
Aumentei o ritmo, sem graça, sem técnica, só imitando o que já tinham feito comigo. Chupei o clitóris como se fosse um pirulito, língua dura, depois mole, depois plana, sugando, lambendo, sentindo ele pulsar na minha boca. O gosto ficava mais forte, mais doce, mais mulher. Meu rosto inteiro estava melado, o nariz roçando nela, a respiração difícil. Ela rebolava contra minha cara, sem pudor, me usando.
— Mais rápido… mais forte… vai, sua vadiazinha… me faz gozar… olha pra mim…
Eu olhava. Olhava direto nos olhos dela, que estavam vidrados, cruéis, vitoriosos. Minha língua doía, minha mandíbula latejava, mas eu não parava. Sentia ela inchando mais, tremendo mais, os gemidos virando gritos abafados.
— Isso… isso… agora chupa tudo… vai…
O corpo dela travou. Um jato quente, doce, salgado, escorreu na minha boca. Ela gozou forte, rebolando na minha cara, me afogando, me sujando inteira. Eu engoli sem querer, tossi, lambi, continuei chupando até ela empurrar minha cabeça pra trás, ofegante, satisfeita.
Ela se virou de lado, toda contorcida de riso, o corpo ainda tremendo com os resquícios do gozo. A luz amarelada do abajur batia no rosto dela e, pela primeira vez, eu vi de verdade: Natália era linda. Jovem, pele lisa, boca inchada de quem acabou de gozar, olhos brilhando de uma felicidade safada e preguiçosa. Qualquer homem babaria ali, implorando pra lamber o chão que ela pisava. E eu… eu tinha acabado de fazer aquela deusa gozar com a minha boca. Um orgulho idiota, doentio, subiu pelo meu peito. “Eu fiz isso”, pensei, e ao mesmo tempo me odiei por pensar.
Voltei devagar para a posição de joelhos, mãos nas coxas, coluna ereta, esperando a próxima ordem como a boa cadelinha que eu estava me tornando. Mas ela só riu mais, enrolando-se no lençol como quem desiste de uma brincar de chefe.
— Ahn, cara, vai, para com isso… eu não sirvo pra ser dominadora não — disse, a voz mole, doce, quase infantil depois do orgasmo. — Fica à vontade aí, vai…
Ela se espreguiçou, o rosto iluminado por uma felicidade preguiçosa, os cabelos bagunçados caindo no rosto. Me olhou de canto, curiosa, divertida.
— E aí, você acha que dá conta? Foi muito ruim?
Eu me sentei sobre os calcanhares, mais confortável, e no instante em que meu sexo tocou o colchão senti o estrago: eu estava encharcada. Uma vergonha quente subiu pelo meu pescoço. Esfreguei as coxas disfarçadamente, tentando esconder o quanto aquilo tinha me afetado.
— Não… achei de boa… — menti, a voz saindo baixa, rouca, sem olhar pra ela.
Ela deu uma risadinha baixa, como quem sabe exatamente o que eu estava tentando esconder.
— Sei…
E ficou ali, me olhando com aquele sorriso de quem acabou de ganhar o dia.

