Capítulo 21#

Passou um tempinho. Aquele silêncio estranho, sabe? Quando ninguém sabe o que dizer depois… eu fiquei só ali, ouvindo minha respiração, o coração ainda batendo meio torto. Pedi pra desligar, disse que ia no banheiro. Eu tava melada… escorrendo mesmo, tinha descido pelas coxas. Quando fui me lavar, cada vez que tocava em mim, o corpo estremecia. Se eu insistisse um pouco, gozava de novo. Fácil. Tava com um tesão que me deixava até com raiva, mas eu precisava respirar. Me acalmar. Porque, se não, eu ia acabar querendo me encontrar com ele. E eu não podia.

Voltei pro quarto já mais calma — ou fingindo que sim — e liguei de novo.

— E aí…? Tá tudo bem? Tá inteiro ainda? — tentei brincar, mas minha voz saiu meio sem força.

— Tô sim… nossa, isso foi… bom demais — ele fez uma pausa, daquelas que parece que vai dizer algo e não diz. Mas falou. — Tu acha que rolaria de fazer isso de novo?

Fiquei quieta por um segundo. Mordi o canto da boca. Eu queria dizer “sim”, mas não queria parecer desesperada.

— Eu… acho que sim. Gostei. Bastante.

— Mas eu tô falando… assim… ao vivo, sabe?

Meu estômago virou. Eu fechei os olhos, tentando não sorrir feito boba.

— Ao vivo? — repeti, fingindo surpresa. Mas eu sabia. E o corpo já tava se armando inteiro pra dizer sim.
— Olha, Alfredo… eu teria que falar com o João antes.

Silêncio. Um silêncio curto, mas carregado.

— Você vai contar pra ele o que a gente fez?

— Vou, ué. Não tem problema. — dei uma risadinha, meio cínica, meio excitada. — Ele inclusive tá esperando as fotos…

— Pois é… acabou que a gente fez tudo por vídeo, né?

— E foi bom. — respirei fundo, a boca ainda quente de lembrar. — Eu vou falar com ele, tá? Preciso desligar agora.

— Tudo bem. Vou procurar mais umas fotos aqui… você manda pra ele?

O João… não sei se ele ia querer ver. Talvez só pela curiosidade mesmo. Mas eu… eu queria. Queria ter uma lembrança. Não era só sobre ele, era sobre mim também.

— Ótimo, ele vai adorar. — menti sem nem piscar.

Mas aí me bateu. E se o Alfredo achasse que o João era gay? Isso podia virar uma bola de neve desnecessária.

— Mas olha… Alfredo, só pra deixar claro: o João não é gay, tá? É mais uma coisa de… curiosidade. Exploração. Só isso.

— Tudo certo, Vê. Eu nem pensei nisso, relaxa.

— Tá bom. Beijo. Depois me chama.

Desliguei. Mas a cabeça ficou ali, fervendo. E o corpo… também.

Terminei de me vestir, coloquei qualquer coisa — um short velho e uma camiseta larga — e fui até a cozinha. Minha mãe tava jantando com meu pai, os dois conversando baixo, como sempre. Sentei ali com eles, tentando parecer normal, mas por dentro…
”Caramba, eles nem imaginam o que a filhinha querida anda fazendo por aí.”
Veio do nada. E me bateu.
E se descobrissem? O que minha mãe ia pensar de mim?
Aquela ideia me deixou meio triste. Não de arrependimento… mas de imaginar a decepção nos olhos dela. Eu sabia que não tava fazendo nada de errado — não pra mim — mas mesmo assim…

Já era quase hora de dormir quando o João me ligou.

— Vê… tudo bem?

— Tudo, amor… e você?

— Vai, conta tudo… como foi?

Respirei. Era difícil saber até onde eu queria ir com ele naquela conversa. O combinado era trocar umas fotos, não se tocar por vídeo… e muito menos fazer o que eu fiz. Eu ainda não tinha certeza se ia contar tudo.

— Espera um pouco. — falei baixo.

Abri a galeria e selecionei. Mandei as que tirei, junto com a que o Alfredo tinha mandado. As dele pararam por ali — ele não mandou mais nenhuma, mesmo tendo prometido.

— Essa aqui foi a que eu enviei. E essas… eu tirei, mas não cheguei a mandar, amor.

— Deixa eu ver com calma…

Ficou um minuto inteiro em silêncio. Eu quase desliguei achando que ele tinha travado.

— Nossa… você tá muito gostosa nessa foto. A gente devia fazer mais isso. Trocar fotos às vezes. Quem sabe até gravar um vídeo… sei lá.

— Vídeo é meio demais, João. Eu morro de medo dessas coisas vazarem. Depois de hoje, eu nem devia ter mandado foto pra ninguém. Eu sou maluca mesmo de fazer isso.

— Mas… ele tem um pau bonito. Acho que até mais bonito que o meu.

Aquilo me pegou de calça curta. Meu coração deu um pulo e eu respondi rápido demais.

— Sim! — gelei. — Quer dizer… não! Não, amor. Eu gosto mais do seu. O dele parece de… brinquedo, sei lá. Sem graça.

Quase deixei o ciúmes dele escorregar por causa de uma besteira. Respirei fundo, rezando pra ele engolir aquilo sem mais perguntas.

— Jão…

Mas ele ficou quieto. Do outro lado, só o som da respiração dele no fone.

— Fala comigo, vai. Não começa.

— O dele é realmente bonito.

— Mas eu gosto do seu, tá? — falei baixo, tentando desfazer o mal-entendido. — Porque o seu vem colado em você… seu bobão.

— Tudo bem, eu não tô com ciúmes, não. Mas… o que mais vocês falaram?

Aí complicou. O João era paranoico. Se eu dissesse que a gente só conversou, ele ia desconfiar. E se eu contasse tudo de uma vez, podia dar ruim. Eu precisava escolher bem.

— Você acredita que o safado se insinuou pra gente transar, João?

— Claro. Ué, você queria o quê? Você mandou nude meu e seu. Isso é praticamente um convite.

— E você ficaria de boa com isso? — perguntei, meio firme. Respirei fundo. Às vezes essa falta de ciúmes dele me deixava maluca.

— Claro que sim. Já falei que fico.

Silêncio.

— Então você não vai ficar chateado de saber o que eu fiz…?

— Eu imagino o que foi. Mas fala.

— O que você imagina?

— Que você tocou uma siririca com a foto dele.

— João…

Minha garganta apertou. Dei uma pausa. Era a hora de soltar.

— Eu toquei… com ele. Pela câmera.

Silêncio. Do tipo que lateja.

A resposta dele veio rápida demais.

— Tá bom.

— Tá bom? Como assim tá bom? Não vai dizer nada além disso?

Por mais que ele tentasse me convecer e fosse verdade que ele estav de boa com aquilo o sentimento de errado era grande na minha cabeça. Eu meio que queria me justificar e minimizar as coisas a todo custo

— Mas eu não me mostrei, tá? — soltei rápido, antes que ele criasse qualquer imagem errada. — Ele abriu a câmera, começou a se tocar, e… foi isso. Eu fiquei só olhando, me masturbando também. E ele gozou no vídeo pra eu ver.

— Você que pediu isso?

— Não… ele ofereceu. E eu… eu aceitei. Tava excitada com a ideia, só isso.

Do outro lado, silêncio. Longo. Eu quase chamei, mas ele falou antes:

— Vê…

— Oi?

— Será que eu sou gay?

A pergunta bateu seca. Eu não ri. Não era brincadeira.

— Por que você tá dizendo isso?

— Não sei… eu achei o pau do cara bonito. E não sei se foi o que você me falou, ou a forma como contou, mas… eu tô aqui, duro, querendo me tocar uma punheta para vocês.

Fiquei quieta. Tentei imaginar ele ouvindo tudo que eu disse, imaginando… sentindo.

— Uai, você pode experimentar, João. Eu experimentei e gostei. Mas acho que eu já era meio inclinada a isso, sabe? Desde sempre tive umas vontades meio atravessadas.

— Mas… sei lá. Com homem… é diferente. Estranho pensar nisso agora. Eu sempre fui fissurado em mulher, em buceta… e agora fico aqui imaginando se… se eu chupar um pau, vou curtir.

— Chupar pau é bom, idiota. Claro que é. Você não gosta de chupar buceta?

— Gosto, porra. Tu sabe disso.

— Então… é tipo isso. Só que diferente. Tem textura, tem gosto, tem cheiro… e quando tá duro, fica latejando na boca… — parei, rindo sozinha — tá vendo? Eu falando e você vai acabar gozando aí só com a minha voz.

Ele riu baixo. Aquele riso que vem com um suspiro abafado.

— Eu já tou com a mão no pau, Vê. Só de te ouvir… puta merda.

— E tá imaginando o quê? Eu com o Alfredo? Ou você… com ele?

Silêncio. Um barulhinho de respiração presa.

— Eu… não sei. Acho que as duas coisas. Eu gozei pensando nisso mais cedo. Em você chupando ele. E eu… olhando. Ou participando.

Fechei os olhos. Só de ouvir a voz dele com aquele peso, aquele tom mais grave, senti um calor subindo no peito.

— Você deixaria ele te chupar?

— Eu não sei. Talvez. Se eu confiasse nele. Se tivesse você junto… talvez sim. Mas… e se eu gostar demais disso, hein? Vai dizer que não se arrepende?

— Eu ia adorar, João. Ia ser gostoso ver você se descobrindo. Ver seu corpo reagindo a coisas novas. E eu ali, te olhando… tocando em mim.

— Caralho, Vê…

— Tá tocando ainda?

— Tô… mas eu quero te ouvir mais.

— Então fecha os olhos. Imagina que eu tô aí, ajoelhada entre as suas pernas, olhando pra você, segurando tua mão e dizendo: deixa ele te tocar, amor… deixa ele lamber você, bem devagar…

— Porra… continua…

— Eu vou encostar meu rosto no teu, vou ficar dizendo baixinho que tá tudo bem, que tá gostoso. Você vai olhar pra mim com aquela cara de bobo que faz quando tá quase gozando… e eu vou mandar: goza. Goza bonito. Quero ver.

Ele gemeu. Baixinho. Como se tivesse se esquecido de segurar.

— Vê… eu gozei.

Sorri, mansa.

— Eu sei. Eu ouvi.

A gente ficou em silêncio um tempo. Eu não queria desligar. Nem ele. Mas o peso do que tinha sido dito ainda tava ali, pairando.

— Você tá bem com isso, João?

— Não sei o que isso tudo significa. Mas eu tô bem com você. Isso eu sei.

— Então já é alguma coisa.

Ele riu, leve.

— A gente é muito doido, né?

— Totalmente.

Silêncio de novo.

— Mas eu gosto. Gosto desse tipo de doideira com você.

— Eu também. Me deixa viva.

— Boa noite, Vê.

— Boa noite, amor.

Ele soltou um riso abafado antes de desligar. Eu fiquei ali, olhando pro teto… com a sensação de que alguma coisa nova tinha começado.