Capítulo 24
O Alfredo foi até o armário e começou a revirar uma gaveta. Eu peguei no ato o que ele procurava: uma gaveta de calcinhas, com mais investimento ali do que eu tinha feito na minha. Ele tirou uma preta. Eu devia ficar quieta, mas falhei e soei desagradável.
— Alfredo, você vai pôr calcinha? — a surpresa escapou.
Ele me olhou sereno.
— Ué, faz parte da montagem. Tem que estar tudo perfeito. — Observou a peça como quem escolhe o óbvio do dia. — Vou trocar de roupa vou no banheiro pôr isso e depois termino de me arrumar aqui depois, tá? Você se incomoda?
— Problema nenhum.
Respondi porque não sabia o que dizer. Estava sem graça, mas doida pra ver ele vestido com aquilo. Mal fechamos o assunto e ele foi pro banheiro se arrumar.
Peguei o celular e liguei pro João de imediato, sussurrando:
— Jão! — disse em uma voz agitada
— Oi, Vê. — A voz calma e tranquila.
— Vem pra cá voando.
— O que foi? — ele ficou alerta.
— O Alfredo tá de calcinha. — falei como quem conta a maior das fofocas.
Silêncio.
— O quê?
— Isso mesmo que você ouviu.
— Tá… mas isso te incomoda? Se incomodar, sai daí agora. — a voz dele de apreensão, coisa rara.
— Não. Não é isso. Mas acho que você vai querer ver. Vem logo.
— Tá. Em meia hora eu tô aí.
— Trás cerveja.
Enquanto o Alfredo se trocava no banheiro, eu tentava assimilar pra não ficar com cara de desespero. Aproveitei pra ajeitar as coisas e juntar a bagunça. Quando ele voltou, ainda com a blusona da Minnie cobrindo tudo, vi que o short de lycra tinha sumido. Tentei olhar de lado, disfarçando. Não sei se ele percebeu.
Agora tinha algo diferente nele. Mais feminino. Não sei explicar. Parecia transformado. O olhar ficou altivo, um mistério calmo. O andar ganhou um rebolado preciso, não afetado, como se fosse uma mulher mesmo, até nos gestos.
— Ah… falei com o João. Daqui a pouco ele chega.
— Então vamos correr? — Ele pegou um vestidinho que estava separado, coberto por plástico. Cara de sex shop.
Roupa de fantasia?
— É. Estudante japonesa. Versão piranha.
Sempre tive vontade de usar essas coisas. Mas onde eu ia guardar? Na minha casa, impossível. Na casa do João, se a mãe dele visse, eu morria de vergonha.
E então ele se preparou para vestir, eu estava doida para ver ele de calcinha, e curiosa claro, não vou negar. Você pode me perguntar se a ideia de ver aquilo me excitava e eu vou responder seguramente que não, ele tinha um belo pau e grandinho, adoraria fazer coisas com ele, mas eu só queria saber era onde ele iria esconder aquela coisa enorme naquele pequeno pedaço de pano…
Mas o safado, fez como todas nós, vestiu a saia primeiro, virou-se de costas e colocou a parte de cima, quando se virou para mim novamente, estava praticamente vestido.
No fim, a make ficou uma gracinha básica mesmo, o babado todo foi aumentar os olhos pra ficar com cara de hentai, tipo aqueles olhão que ocupam metade do rosto. A gente ficou um tempão falando de tudo: maquiagem barata que presta, banda emo dos anos 2000, livro que a gente finge que leu, essas coisas. Nem parecia que uma semana atrás eu tava pelada no video me mostrando para ele.
Quando ele terminou de ajeitar a última mecha da peruca e subiu nos saltos, a campainha tocou. Olhei no celular: exatamente a hora que o João tinha falado que chegava.
— É o Jão — avisei.
O Alfredo já começou a surtar, se olhando de canto de olho no espelho, respirando fundo que nem atleta antes da final olímpica.
— Tá, tá, tá… eu vou pro banheiro agora! — ele falou esbaforido, apontando pro notebook com o dedo cheio de glitter. — Quando vocês estiverem sentadinhos, é só dar play nessa playlist aqui, tá? Eu saio do banheiro no primeiro beat!
— Beleza, diva — respondi rindo.
Ele correu pro banheiro feito uma doida, batendo o salto no chão e quase quebrando o tornozelo no caminho.
Fui abrir a porta. O João tava lá, segurando duas sacolas lotadas de cerveja e uns salgadinhos, com aquela cara de quem não sabe se tá atrasado ou adiantado demais.
— Mano, não é festa não, hein — falei zoando ele pelo excesso.
— Uai, tu que mandou trazer cerveja, não falou quantidade! — ele se defendeu, dando um beijo rápido na minha boca enquanto eu pegava uma das sacolas.
A gente foi pra cozinha, abriu a geladeira e começou a enfiar as latas lá dentro. Eu já tava ansiosa pro show do Alfredo.
— Bora logo, Jão, o Alfredo tá trancado no banheiro feito noiva no dia do casamento. Ele quer fazer uma “apresentação” pra gente.
João ergueu a sobrancelha, aquele sorrisinho nervoso que eu conheço bem.
— Apresentação? Tipo… striptease?
— Não sei, amor, só sei que tem playlist pronta e ele tá de salto e peruca. Vem logo antes que ele desista.
Peguei duas cervejas geladas, entreguei uma pro João e puxei ele pelo braço pro quarto. Fechei a porta, eu cliquei no play, e a gente sentou na cama, ele encostado na parede e eu entre suas pernas
A luz do quarto tava baixa, a playlist começou com uma batida pesada e, puta que pariu… a porta do banheiro se abriu devagarinho e o Alfredo saiu. Eu e o João ficamos só olhando, boca aberta, cerveja na mão, sem acreditar no que estava acontecendo.
A luz do banheiro cortou o quarto como um holofote deixa a estrela em contra-luz. Alfredo saiu no primeiro grave da música, passo firme no salto alto, pernas longas esticadas dentro da meia 7/8 branca que subia até o meio da coxa. A saia plissada de colegial japonesa balançava curta, quase mostrando a calcinha a cada giro. A blusinha branca de manga curta estava abotoada até o peito, o nó da gravatinha vermelha frouxo, como se tivesse acabado de sair da sala de aula e viesse direto pra cá.
A peruca preta caía lisa até a cintura, franja reta cobrindo as sobrancelhas. O rosto… meu Deus. Eu tinha feito o olho grande, e ele finalizou com um delineado grosso, sombra rosa brilhante, boca pequena e vermelha. Parecia uma boneca viva. Não piscava. Olhava fixo pra frente, pra nós dois, como se a gente fosse o único público do mundo.
João estava sentado encostado na parede, e eu entre as pernas dele, encostada no seu peito. Senti o coração dele bater forte contra minhas costas. Alfredo dançava devagar, quadril marcando cada batida, mãos subindo pelo corpo, abrindo um botão da blusa a cada compasso. A luz do abajur batia no corpo dele e não tinha um pelo, nem marca, nada. Só pele lisa, cintura fina, pernas que não acabavam mais.
Ele girou, de costas pra gente, abaixou devagar, saia subindo, mostrou a calcinha branca de renda forrada e cavadíssima, fio dental quase sumindo entre as nádegas redondas e durinhas. Quando virou de frente de novo, a blusa já estava aberta, peitinho liso à mostra, mamilo rosado durinho de frio ou tesão, sei lá.
Foi aí que senti. Um volume duro cutucando minhas costas. João estava latejando dentro da bermuda. Sem pensar, aproveitei da meia-luz que nos protegia e levei a mão pra trás, apertei devagar por cima do tecido, senti ele pulsar na minha palma. Ele soltou o ar quente no meu pescoço, mão apertando minha cintura.
João na hora segurou a minha mão e tentou tirar de cima do pau dele, mas eu cravei as unhas dele para que ele desistisse de tentar me impedir. No meu rosto, um sorriso fazia o trabalho de disfarçar o que eu estava fazendo além de só assistir o espetáculo particular.
Alfredo desceu a saia de vez. Jogou no chão com o pé. Ficou só de calcinha, meia e salto. A calcinha era tão cavada que mal cobria. Olhei direto: um volumezinho pequeno, delicado, marcado no tecido, mas tão discreto que, se eu não soubesse, jurava que era só uma menina com o púbis gordinho. Ele rodopiou mais uma vez, caiu de joelhos no chão, abriu as pernas, jogou a cabeça pra trás, mão deslizando pela coxa até quase tocar o volume, mas parou antes.
Meu corpo inteiro queimava. Eu sentia minha buceta vibrando querendo ficar molhada, apertando o nada, já pedindo para ser tocada. A mão que eu tinha atrás, apertando o pau do João por cima da bermuda, começou a se mexer sozinha: devagar, firme, sentindo o calor pulsar contra minha palma. Meu coração batia tão forte que eu jurava que os dois podiam ouvir. A ideia de estar ali, sentada entre as pernas do meu namorado, apertando ele enquanto o melhor amigo dele dançava quase nu e vestida de mulher na nossa frente, deixava tudo mais interessante. E por um instante comecei a desejar que o Alfredo visse. Que eu estava segurando o pau do meu namorado enquanto ele dançava, e que ele ficasse logo nu e viesse para cima de nós dois.
A música acabou. Silêncio absoluto.
Eu e João ficamos parados, sem ar. Depois começamos a bater palma, forte, sem conseguir parar. Alfredo continuou ajoelhado, respiração acelerada, olhando pra gente com aqueles olhos enormes, um sorriso pequeno no canto da boca.
Nem parecia o Alfredo.

